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Quando mentir compensa: a verdade não é suficiente? O paradoxo da informação

  • Antologia Crítica
  • 7 de ago. de 2024
  • 28 min de leitura

Atualizado: 23 de ago. de 2024


Você já passou por essa situação? Você quer pesquisar sobre um tema, então você abre uma aba daqui, uma outra página de lá, uma wikipédia, um youtube, um tiktok e quando você vê você tem 50 milhões de coisas, assuntos e aí trava, se sente completamente petrificado e sobrecarregado, não faz ideia nem de por onde começar. Já se sentiu assim? Bom, essa tem sido a minha vida semanalmente há 6 anos, toda vez que eu vou escrever um vídeo novo aqui pro canal, porém, essa semana aconteceu algo diferente que eu acho que eu preciso te contar.


E aí? Tudo suave por aí? Então, a história é a seguinte, a gente percebeu aqui na equipe que tem alguns vídeos que já tem 5, 6 anos atrás e que talvez fosse hora de revisitá-los, e entre eles o da juventude e rebeldia conservadora, e foi aí que nasceu a minha crise existencial.


Você já tomou contato com algum trabalho seu do passado? Alguma coisa que depois que você aprendeu muito, leu muito sobre aquilo e tudo mais, e aí você volta e não desce mais? Veja, eu gosto desse vídeo, ele envelheceu, mas envelheceu bem, envelheceu com a pele boa, saudável, mas tá velho, datado, coitado. Só que quando eu fui fazer a pesquisa de sempre, aí eu cheguei na beirinha do abismo, algo que, diga-se de passagem, acontece vez ou outra aqui nos vídeos, é o paradoxo da informação. O que é isso? Essa é a jornada que eu quero te contar nesse episódio porque eu tô cansado de me angustiar sozinho e aí eu vou angustiar você junto. Yeeeey!


E também a gente vai testar uma escrita um pouco mais livre, pessoal, delirante. Talvez você nem note, mas eu queria te avisar e pedir pra que você abra a cabeça porque esse roteiro vai começar normal, como todos os outros, mas eu aposto que você nem imagina até onde a gente vai nessa viagem quase licérgica. Então like, sininho, inscrição e bem-vindo a uma nova tentativa de quadro. Delírios.


Como construir conhecimento?


Certo, primeiro de tudo, você já parou pra pensar no caminho que você faz até construir um conhecimento? Em algum momento de 2019 eu decidi pegar um texto que existia desde antes do canal, era um texto, sei lá, de Facebook ou alguma coisa assim, sobre esses tais jovens conservadores. E eu tinha duas teses pra trabalhar.


O estereótipo de jovem rebelde e pouca pesquisa acadêmica


A primeira é que a rebeldia foi sequestrada e se em um outro momento o estereótipo político da esquerda se juntava ao jovem rebelde, isso agora tinha acabado e a extrema direita também estava utilizando esse sentimento de anti-sistema pra defender o sistema e aí capturar vários jovens. E em segundo lugar, havia pouca pesquisa acadêmica sobre esse assunto, o que me preocupava muito. E aparentemente, algo interessante aconteceu depois disso.


A partir do ano de 2019, explodiram pesquisas acadêmicas sobre o assunto, muita gente estava angustiada que nem eu, esse incômodo era coletivo, afinal de contas a gente estava vivendo isso aqui:


juventude conservadora

Mas já se passaram 5 anos disso, o mundo mudou, a juventude já não é mais a mesma, então eu percebi que eu precisava parar e entender essa visão do jovem conservador de agora.


Ler as novas pesquisas, entender as novas redes, os novos gostos e tal. E aí por onde começa uma pesquisa? Eu recebo direto essa pergunta aqui nos comentários e ela não é tão trivial quanto parece. Aprender a pesquisar é uma ferramenta muito importante e cada dia mais fundamental no mundo de enxurrada de fake news, e nesse caso, enxurrada quase que literalmente.


Então assim, numa boa, você sabe pesquisar? Tipo, realmente sabe pesquisar? Talvez você me responda, ah, basta jogar no Google. É, tem duas coisas aí, primeiro que os mais jovens não sabem mais pesquisar no Google e no Tik Tok, depois porque não é só jogar no Google, há todo um ranqueamento que privilegia resultados e torna mentiras mais visíveis do que verdades hoje em dia. Mas esses dois pontos a gente vai trabalhar daqui a pouco no vídeo.


O ponto central aqui é que pesquisar, pesquisar mesmo, envolve muitas etapas. Saber pesquisar não deveria ser uma ferramenta só do professor, do jornalista, do acadêmico ou de sei lá mais quem trabalha com isso profissionalmente. Então, aqui vão os meus caminhos de pesquisa pra descobrir mentiras, fake news, teorias da conspiração e aí sim criar um roteiro.


normose pesquisa

Mas veja, isso aqui não é uma fórmula de pesquisa e não tem nem sei lá 50% dos passos de uma pesquisa acadêmica, afinal de contas isso não é um artigo acadêmico, é um vídeo de Youtube. Ainda assim acho que vale mostrar a minha estrada que pode te ajudar a pesquisar daqui pra frente, vai saber, eu espero que até o fim do vídeo você saia com algumas ferramentas e estratégias poderosas.


Como fazer uma pesquisa?


A primeira coisa então é abrir um arquivo vale tudo e jogar lá as perguntas, o que eu quero pesquisar e pra que eu quero pesquisar essa coisa, o que são coisas, pessoas, lugares, receita de bolo, um evento, sei lá.


Depois disso eu passo a elencar quando, por que, o que, onde, como e essas coisas que vão estruturar minha pesquisa, pra eu ir acompanhando como vai a evolução do meu conhecimento. E aí beleza, agora começa o mais importante passo de todos, seleção de fontes. Começa então o mais aberto possível, um erro muito comum em pesquisas e que pode te fazer cair em viés da confirmação, começa aqui, você já tem uma resposta e busca informações só pra confirmar aquilo que você já sabia, eu não faço assim, eu costumo ter perguntas e aí eu vou atrás pra descobrir nas fontes, deixando inclusive a possibilidade de perceber que as minhas perguntas podem estar enviesadas, podem estar erradas, como é que eu faço isso? Por exemplo, no roteiro de juventude conservadora, eu posso sair perguntando, há uma juventude conservadora? O que pensa essa juventude conservadora? E o que ela pensa de diferente da juventude chamada progressista? Sei lá, algumas perguntas bem abertas mesmo.


E então, no início da coleta, eu me permito ir pra lugares mais genéricos, tipo Google, Bing, Wikipédia, sim, Wikipédia já não é mais um meme de lugar de pesquisa ruim, Wikipédia é uma coisa muito séria pra um início de pesquisa e pode te dar algum panorama inicial sobre o que está acontecendo daquilo que você está pesquisando, não pelo texto da Wikipédia em si, mas por causa do final do texto, onde há as referências, as fontes e o histórico de mudanças pra que eu tenha alguma dimensão inicial e entenda qual é a guerra de edições que está acontecendo dentro daquele tema, isso já vai me dar as minhas primeiras reflexões. E inclusive, nesse momento, pode ser útil usar o Google Trends, que pode te dar alguma noção da dominância que aquele tema teve durante algum período, por exemplo, juventude conservadora, de fato, passou a ser um tema mais discutido após 2019, opa, então minha pesquisa estava certa, alguma coisa aconteceu depois de 2019.


wikipédia

Então esse é um bom ponto de partida pra quando você não sabe nada sobre nada de um tema e quer começar com um sumário mais geral, mas é claro, Wikipédia e Google tem os seus problemas e as suas limitações, e aí eu avanço pra mais uma fase da pesquisa, e note, aqui eu não li nada ainda, estou apenas na coleta das fontes, tá certo? E agora, com 2 ou 3 ideias tópicas na cabeça, você começa a cavucar pdfs e ficar fissurado pelos resumos, sim, os resumos daquele início de artigo que vão te dar a linha se você deve ou não investir tempo ali dentro e se você deve ou não ler aquele artigo inteiro, senão é muita coisa e você vai se perder.


E aí, eu não sei se é vício de historiografia, historiador, alguém que foi criado pra ficar perseguindo fontes, mas o primeiro passo que eu faço mesmo é pegar todos esses artigos e descer até o final pra conferir quem são as fontes, quem são os autores, pra buscar um padrão, quem é que tá aparecendo mais em artigos como autor, quem são as pessoas de ponta desse campo de estudo, e o que elas estão estudando, quais são suas teses, quais são suas defesas. Aí, por exemplo, nesse episódio eu encontrei quase todos os artigos que em algum momento citavam o Karl Mannhein, o sociólogo que é base pra estudo das juventudes até hoje. Beleza, legal, um autor base pra gente seguir.


Aqui no Brasil, eu comecei a ver se repetirem os nomes de Beatriz Besen, Rosana Pinheiro Machado, Alexandre Chiodi, Isabela Kalil, beleza, também já tenho pesquisadores brasileiros, e nesse vídeo em específico eu fui buscar gente pra tentar entender, mandar mensagem pra entrevistar essas pessoas, e eu espero que no próximo episódio que você assistir a gente veja a entrevista de algum deles. Em último lugar, eu faço esse mesmo processo, só que com textos opostos à minha tese e à minha base ideológica. Ou seja, eu vou ler, por exemplo, no caso desse episódio, os autores conservadores e os expoentes do pensamento conservador que falam pra essa juventude.


Aí eu fui ler Burke, Chesterton, Voegelin, a nova direita, e eu acabei indo parar no Olavo de Carvalho, Luiz Felipe Pondé, e aí eu parei. E aí eu parei também porque eu sou doido, mas não sou idiota. Tudo tem um limite, certo? Até porque, nesse momento, certamente eu vou descobrir coisas que eu não fazia ideia e talvez eu tenha que recalibrar minha pesquisa, coisa que, por exemplo, eu tava errado sobre a formação da juventude conservadora, e aí eu precisei refletir.


E quanto mais você pensa nessa questão, isso vai te abrindo mais artigos pra buscar, e a cada coisa que você abre, uma nova aba, e a cada aba, uma nova descoberta, e aí você vai abrindo, abrindo, abrindo, e você descobre que, se cada teia de conhecimento vai abrir um novo conhecimento, eu realmente não sei nada sobre nada mesmo. E agora, travou? Esse sentimento inclusive pode gerar um erro na sua pesquisa. Essa sensação de muita coisa pra fazer pode te dar vontade de largar, falar, foda-se, vou jogar videogame que é muito mais legal.


Mas saiba, isso é uma curva do aprendizado, uma etapa do aprendizado. Você já passou por essa curva? Comenta aqui embaixo. Aquela sensação de você achar que sabe alguma coisa e nem perceber o quanto você não sabia sobre aquela coisa.


Ah, efeito Dunning-Kruger, você pode estar pensando. Hum, mais ou menos. Bom, deixa eu abrir um parêntese aqui.


Eu ia citar o efeito Dunning-Kruger assim, só de passagem, porque todo mundo conhece ele e tal, e eu queria citar só tipo, ah, o efeito é isso, e aconteceu isso, e acabou. Só que aqui no canal, por responsabilidade, tudo que eu vou citar, eu preciso ir conferir. E quando eu fui conferir rapidinho, só pra ver se era isso mesmo, aí... Aí demorou duas semanas, daí atrasou completamente a produção, o público tá atrasado, tá tudo atrasado! É, é meio isso mesmo.


Tudo aquilo que vai pra linha de tudo que você sabe tá errado, me chama muita atenção. E foi isso que aconteceu no Dunning-Kruger.


E aí ferrou, né? Eu comecei a sentir, inclusive, que eu tava sendo refém desse falso efeito Dunning-Kruger. Doideira a nossa cabeça, né? Mas não é bem por aí. O Dunning-Kruger depende da tarefa, da causa, e ele não tem, assim, esse efeito que a gente imagina, e muito menos deve ser usado pra xingamento, como a gente usa, pra falar que os outros são burros, ignorantes.


Eu tô só te contando esse parêntese pelo seguinte, faz parte da pesquisa do Aprendizado essa etapa um pouco dolorida, se sentir burrão. Isso nada a verdade, nada mais é do que o sentimento de um aprendiz. E ele não é ruim.


A gente tá num momento que parece ser proibido dizer eu não sei. E eu não sei deveria ser justamente a gasolina pra ir buscar mais. O óbvio virou genial, pô.



casimiro sobre o óbvio

"Sabe qual é? Isso que é foda, né? O óbvio virou genial, porque hoje se perdeu o pudor de ser burro, né? Hoje as pessoas não tem mais vergonha de ser burro. Hoje não. Hoje você fala, você é burro, e protege a sua burrice."


Não, tem o direito de ser burro, tem o direito de falar o que ele pensa. Então eu vou te contar uma história pra ilustrar isso. No ensino médio ainda, há muito, muito tempo atrás, eu me encantei por um negócio chamado café filosófico.


Eu gostava de ir lá na época do ensino médio e tudo, mas é coisa de adolescente pagando de inteligência então. E aí eu descobri que o café era na minha cidade, então eu fui assistir ao vivo. E aí quando eu cheguei lá, era a palestra de Nietzsche do professor Oswaldo Giacóia, e eu não entendi nada do que o Giacóia disse.


Tipo, não é que eu não entendi o assunto, o tema e tal, eu não entendi nada de nada, nada mesmo. Eu não entendi as palavras, eu não entendi as expressões, eu não entendi da onde o professor queria chegar, pra onde ele iria, eu não entendi nada. E aí eu saí de lá acabado, me sentindo burrão.


Mas tudo bem, não desisti, continuei estudando, acabei entrando em história, e quando eu cheguei na universidade e comecei a estudar, eu descobri que esse professor Giacóia tinha acabado de entrar pra dar aula no instituto onde eu estudava. Aí eu fui assistir umas aulas de ouvinte, e o que aconteceu? Bom, ali eu entendi um pouquinho mais, porque eu tava evoluindo, mas ainda faltava muito mais. Só que desde lá eu entendi e me põe no meu lugar, o lugar de aprendiz.


E a partir do momento que você acha que sabe alguma coisa, ferrou, você sai da posição do aprendiz e começa a se embrutecer.



Caismiro e sobre ser burro

"Hoje não, hoje perdeu-se o pudor de ser burro, aí todo mundo é burro agora, e aí como todo mundo é burro, tem grupo de burros, que bizarro, caralho. Vários burros falando, o burro nunca tá só, aí quando ele percebe que ele não tá só, ele tem o grupinho dele, aí ele fala, pô, eu não tô errado não, mané, tem vários caras falando o que eu falo, só que ele tá sendo burro, apenas."


Você já entendeu o que eu fiz aqui, né? Pra falar de erros na pesquisa, eu quis te mostrar isso na prática. Se perder na quantidade de reflexões, parênteses, parênteses, abrir novas coisas transversais e tudo mais, realmente pode acontecer numa pesquisa. Olha o tanto de coisas que foi gerada pra reflexão apenas com um jovem conservador como pauta.


Então, você pode se perder num poço sem fim a qualquer momento. Volta aqui e foco. Eu tô falando isso porque demorou muito, muito pra eu entender, por mais contraditório que pareça, que fazer excesso de pesquisa é ruim.


Eu tenho bastante dificuldade de precisar o tempo, eu confesso. Eu entro aqui num turbilhão de pesquisa, e aí eu vou abrindo essas possibilidades e tudo mais. E toda semana, em algum momento, rola isso aqui pra Equipe do Normose.


"Oi, pessoal. É... Novidades. Aquele vídeo lá, com data pra publicar e tal, acho que vai atrasar um pouco, tá?"


Isso porque, veja, ainda estamos na fase de coletar recursos e fontes pra nossa pesquisa. Então quando você começa a ficar muito circular nas coisas que você tá vendo, é hora de se afastar. Dar um tempo. Deixar a massa descansar, tipo massa do bolo.


Às vezes, não pesquisar é o que mais ajuda na sua pesquisa. Então beleza, chegou a hora de categorizar os artigos e separar eles em alguma coisa que não seja um bloco de notas TXT. E por que eu tô falando essa parada? Porque eu faço isso e eu sou um imbecil.



Pesquisa


E aí você começa com uma leitura desinteressada, anotando aquilo que você acha que pode ser mais importante pra retomada da sua pesquisa e fazer um fichamento da sua leitura. Você sabe o que é um fichamento? Fichamento é quando você resume, pra voltar depois, as teses principais e ideias daquele artigo, indicando inclusive onde aquilo tá escrito, pra que quando você for de fato fazer sua pesquisa, você saiba onde tá aquela informação. Pra arrematar, nessa hora também eu gosto de ler reviews e meta-análises ou trabalhos de historiografia, mas é só pra conferir se eu tô alinhado com o que há de mais atual e recente nas pesquisas sobre aquele tema.


Esses reviews acabam sendo perigosos, porque eles de fato aceleram bastante você compreender um panorama maior daquele cenário, mas você precisa prestar atenção. Esses resumos podem estar desatualizados e nem sempre terem credibilidade. Você tem que olhar bem na revista científica que ele tá saindo.


E a historiografia é o estudo de como a história estuda a história, como a história é escrita, como a compreensão histórica foi mudando ao longo do tempo. É a história de como aqueles historiadores estudaram um certo período. A história da história, não sei, é um ótimo lugar pra ver contrastes, debates, entender quais são as contradições daquele tema.


Afinal de contas, ciência nunca foi pra te entregar verdades absolutas. A pesquisa é uma evidência em discordância embasada em algo material. Então por exemplo, na prática, a minha pesquisa sobre os jovens conservadores indicava em uma pesquisa que o tipo de jovem variava de acordo com o gênero, e que eles buscavam mais mercado de trabalho e empreendedorismo, e a outra pesquisa mostrava justamente o contrário, e era toda embasada na ideia da diferença de gênero como marcador dessa juventude atual e as buscas de valores como família, antiminorias, identitários e aí sim empreendedorismo que batia nas duas pesquisas.


E agora? Qual que tá certo? Qual é que fala a verdade? Afinal de contas, se eu tenho dois dados contrastando, só um pode tá certo, né? Então, não. É nessa hora que a pesquisa precisa cruzar dados. Por exemplo, nesse caso que eu debrucei, tinha uma pesquisa que mostrava que os jovens conservadores não diferiam em gênero, e uma outra pesquisa que mostrava justamente que a diferença estava no gênero.


E agora? Cruzando a pesquisa eu achei a discrepância, fator regional, enquanto uma pesquisa era apenas da região sul do Brasil, a outra pesquisa pegava várias outras regiões que não sul nem sudeste do Brasil. Entendi. Então quer dizer que esses dados se somam, e não se anulam.


E assim vai, dado por dado, coisa por coisa, cruzando as paradas pra você ir entendendo o que tá se desenhando, e aí sim, nesse cruzamento é que você vai tirar uma tese, uma opinião, uma visão mais macro da história. Pra produzir conhecimento você não pode inventar roda toda vez. Mas justamente é bom perceber a sua ignorância e ir buscar uma comunidade que já pensou pra se situar a partir disso, mesmo que seja pra discordar de todo mundo.


Então, tudo separado, chegamos no esperado momento de sentar e ler. Ler, ler, ler, ler, ler. Eu acho isso extremamente emocionante, e eu tô tentando aqui romantizar pra você toda essa coisa de cruzamento de pesquisa e tudo mais, mas na verdade eu tô fazendo isso.


Ler, ler, ler e ler

Aí, meu parcinho e minha parcinha, não tem segredo, truque, código, pílula mágica, quer dizer, pílula até tem, mas enfim, é só sentar a bunda na cadeira e estudar. Isso leva tempo, dá trabalho. Não tem como criar um atalho pro conhecimento pra fazer um trabalho sério e responsável e pesquisar as coisas de verdade, sem diminuir ao máximo a chance de estar sendo enganado.


Então, foi num desses intervalos de trabalho que eu tava lendo os comentários do canal, e aí no meio disso tudo, desse tanto de anotação, papelzinho, aba aberta, eu recebi esse comentário aqui:


"Olá Normose, eu tenho uma pergunta de combate a fake news. Ficou clara na sua produção a questão do tempo que leva pra encontrar informações corretas, mas eu mesmo me alieno das minhas fontes uma vez que raramente verifico a bibliografia. Seu canal é um exemplo de informações que tendo a confiar, mas se você mentir pra mim, já sou um refém e propagador. Você pode disponibilizar o material de estudo sempre, mas quase nunca tenho condições pra conferir. Tenho que cuidar da casa, da família, etc. Existe disposição do leitor. Num contexto que a população geral, que sofre de extremo cansaço e de roubo do pouco tempo, pouco importa se você disponibiliza ou não a origem dos dados, a população não vai acessar. Não é preguiça e nem vontade de acreditar em qualquer coisa, é efeito do sistema capitalista. Consumir é pra poucos, a massa só produz e reproduz. E agora, o que fazer? Como superar as barreiras entre nós e o verdadeiro conhecimento? "


Pronto, obrigado, eu agradeço esse comentário, ele resumiu o que eu tô tentando dizer há vários episódios, mas tava sendo mais sutil.


E agora, ele tá certo, esse comentário realmente resume tudo o que vivemos. E aqui uma virada de roteiro, tudo o que a gente tá fazendo aqui é enxugar gelo. Essa é a verdade, não há tempo pra buscar profundamente e as pessoas vão condicionar suas verdades aquelas que forem mais convenientes.


É real, esse é o grande problema do nosso tempo, não há espaço de vida pra buscar e não faz sentido buscar tanto assim pra alguém que não é pesquisador. Não faz sentido passar todo passo a passo de fontes desse jeito, até porque sei lá, por exemplo, parte do material é em inglês, espanhol, francês e não tem o que fazer, a gente não tem estrutura pra traduzir tudo pro português. E mais do que isso, quem é que vai conseguir ler tudo? Eu mesmo não leio tudo das coisas que eu consumo dos meus amigos, o que é óbvio que não me fará tirar as fontes, mas temos um problema essencial aí.


Quem tem tempo pra ler sem receber um centavo? Quem tem tempo pra, depois do trabalho, assistir qualquer outra coisa que não seja leve, alienação? Eu mesmo, depois disso aqui, vou fazer questão de assistir muito Casimiro. E veja, o que me encantou ao longo desses 6 anos de canal é justamente conseguir trabalhar fora dessa lógica, gravar onde eu quiser, gravar de casa, da minha sala. Uma das coisas que mais me preocupa aqui é justamente sabendo das coisas ultra conectadas e do período que a gente tá, usar isso da melhor maneira possível, usar a parte positiva disso.


Por exemplo, criar as coisas que a gente cria e tirar lá da academia algo que, sei lá, 5 ou 10 anos atrás, tava totalmente preso na universidade. Poder chegar em pessoas daqui do bairro do lado, ou pessoas de toda a região do país, de toda a região do mundo, é muito doido. É nesse ponto que começou a minha crise por uma coisa que tá me consumindo.


Então, aqui no Normose, pra isso, a gente busca ao máximo possível uma abordagem interdisciplinar. A gente quer aproveitar esse espaço pra ajudar você a construir o pensamento crítico, amplo, diverso, entre vários temas. E isso é muito ruim pra produção de conteúdo.


Por quê? Porque nós somos condicionados a ver coisas repetidas. Por isso que a gente constrói um nicho. Pra desenvolver um canal do YouTube, as pessoas gostam da repetição.


Quadros iguais, thumbnails iguais, tudo isso gera familiaridade. Mas e daí? Quem é que se importa com isso, não é mesmo? Eu! Eu me importo! Se inscreve, pelo amor de Deus, a gente precisa bater os 500 mil inscritos! E daí ele ganha férias. Que daí? Ôôô! Aí é bom, hein? Que daí eu vou ganhar férias! Isso! Esse é um excelente apelo.


Ajudar a espalhar uma mentira pela internet é muito mais fácil do que desmentir esta mesma mentira. Não é à toa que entre os maiores canais de entretenimento aqui nessa plataforma, pelo menos há cinco com milhões de inscritos que são baseados em teoria da conspiração e desinformação. É muito mais fácil desmentir.


E então chegamos numa questão material aí. Tem a questão do Adsense, da monetização e da forma que ela é feita aqui dentro. Talvez você acompanhe alguns youtubers gringos.


A questão da grana


Eu, por exemplo, gosto muito da Answer in Progress, da ContraPoints, do Bomberguy, enfim, e eu sempre fico me perguntando como caralhas essas desgraças conseguem gravar tão pouco vídeo e sobreviver disso. A resposta é simples. O Adsense lá fora paga sete vezes mais do que o Adsense brasileiro.


Na Europa chega a dez vezes mais. Isso quer dizer que youtubers brasileiros precisam produzir dez vezes mais para conseguir pagar as contas aqui dentro. E eu preciso aumentar o número de vídeos do canal.


Tipo, preciso. E por quê? Porque a lógica aqui dentro se não me enforca. Senão eu não apareço nas recomendações e vou sumindo cada vez mais, ficando refém do jogo.


E aí o que acontece? Os conteúdos vão sendo cada vez mais simplificados, virando cada vez mais industrial. Cortes, cortes e mais cortes. E os influencers uma hora piram.


Vão ficando cada vez mais doidinhos, cada vez mais apelativos, cada vez mais tentando implorar pela sua atenção. Economia da atenção, lembra desse vídeo? Pois é claro, essa plataforma aqui premia quantidade em número de propagandas, e não qualidade. E aí dane-se.


E quem fica muitas horas por dia também acaba errando mais, é claro, vai fazer mais desinformação. É quase uma questão matemática. Quem fica muito tempo online, inevitavelmente, vai acabar falando merda e vai viralizar mais.


Todos falamos merda, mas nem todo mundo fala merda pra milhares de pessoas, é um beco sem saída. Canais de educação tem a sua confiança construída em cima de credibilidade. E eu não posso simplesmente chutar o balde e sair fazendo publi de jogo do tigrinho ou casa de apostas.


E sim, casa de apostas chega aqui na Normose toda semana. Já a confiança desses influências mentirosos não é a base da credibilidade, é justamente o contrário, é na base da ostentação. Ou seja, quanto mais grana ele tiver pra esbanjar, mais likes ele vai ter e mais verdade ele vai passar.


E aí dane-se. Mente mesmo. E aqui no campo da educação, quem é que tem tempo pra esperar vingar alguma coisa aqui dentro? E sem contar o seguinte, tem muitos temas de desinformação pra se trabalhar, ninguém aqui é tudólogo.


Eu mesmo aqui dentro, se você prestar bem atenção, eu falo de muitos temas, mas eu tô sempre no mesmo lugar. História, comunicação, estética, poder, extrema direita, formação de grupos. É o que eu consigo, são os meus estudos, mas isso é muito limitado.


E além disso, quem é que na educação tem tempo e dinheiro pra começar um canal do zero e esperar algum retorno? Eu, na minha época, precisei dobrar a jornada sendo professor em sala de aula e fazendo canal, até que eu dei um burnout e pirei depois de dois anos fazendo isso. É um ciclo meio fadado à derrota do ponto de vista dos negócios. Mesmo que veja, isso não é uma reclamação, o Normose nunca esteve tão bem, a gente nunca teve tantos views aqui no canal e nunca teve tanto crescimento, não é isso, é só pra deixar claro qual é que é o jogo e como ele é desequilibrado por quem decide pelo caminho da informação.


Em outras palavras, vale a pena ser charlatão aqui dentro, no sentido de que o desenho da plataforma se encaixa perfeitamente pra que as mentiras se espalhem mais do que as verdades. Mas tá bom, acho que já falamos da questão material, só que é muito mais complexo que isso. Você tá preparado agora pra viajar pesado? Agora sim, vamos falar de limites do conhecimento.


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Parece existir uma lei, segundo a qual as ideias simplificadoras vão sempre substituir as sofisticadas, e a vulgaridade vai sempre substituir o conhecimento complexo. E parafraseando, Gregory Bateson em Mente e Natureza.



Mente e Natureza - Gregory Bateson

A Ilha do Conhecimento


A analogia a seguir é do professor Marcelo Gleiser.


Pense no seu conhecimento como uma ilha. Essa ilha está rodeada de água, é claro. Quanto mais conhecimento você adquire, mais terra essa ilha ganha. O que, por consequência, quer dizer que mais água essa ilha toca, ou seja, o conhecido vai trazendo um novo desconhecido conforme os saberes que você adquire. Então quanto mais você conhece, mais áreas desconhecidas você abarca.


A maneira como chegamos no conhecimento é limitada. Você pode ir em busca de mais e mais conhecimento, mas isso é um paradoxo, não vai ter fim. E essa ideia cientificista de que apenas com a razão alguma hora a gente vai abarcar toda essa terra dessa ilha é falsa.


Nunca conseguiremos chegar no limite do conhecimento, tanto porque os nossos instrumentos de análise do real são incompletos, mas porque também o aparelho de compreensão para medir os fenômenos também é incompleto, e a gente vive nessa casca de incompletude. E agora? Para onde partimos? E aqui vai uma trava paradoxal para a comunicação do nosso tempo. Como você prova que algo é falso? Isso não é tão simples como parece.


Se eu te disser, por exemplo, eu estou mentindo agora. Se for mentira, aí é verdade. Se for verdade, aí eu estou mentindo.



Verdades


Tudo o que é enunciado, então, vem do ponto de vista do emissor de uma verdade, e produz no emissor e no ouvinte que acredita na falsidade um valor de verdade. Ninguém acredita em mentiras. Então de algum modo podemos assumir aqui que o nosso conhecimento é sempre ancorado em ideias de verdade, mesmo que elas sejam falsas em seu conteúdo.


Beleza até aqui? Ok. Nosso conhecimento, então, é construído e ancorado numa série de pequenas razõezinhas que justificam você crer naquilo que você crê. Nas razões das suas crenças, elas vão cair sempre em três lugares.


Ou infinitismo, que vai te levar a uma regressão infinita de pequenas razões em pequenas razões até que em algum momento talvez a gente chegue em um conhecimento. Ou nos axiomas, as coisas são assim porque as coisas são assim. Ou nas ideias circulares, ou seja, não há como de fato provar que as coisas são reais. Chegamos aqui no trilema de Munchaussen.


Trilema Munchaussen


Porra, trilema de Munchaussen, agora pirou de vez, né? Calma um pouco, a gente está indo longe, mas eu juro que a gente está quase chegando no ponto.


Não existe uma forma segura ou perfeita de justificar as nossas crenças. Ainda assim, isso não quer dizer que todas as coisas se equivalem, que não tem mais verdade, não tem mais nada e cada um acredita no que quiser e pronto.Não é isso.


Porém, eu acho que dá pra notar nesse ponto que a nossa sociedade vai ter algumas verdades arbitrárias e acabou. E como é que os regimes fazem pra imprimir isso? Existe uma espécie de economia política da verdade, ou seja, um regime de verdade que está presente na nossa sociedade moderna e que é fundado por algumas instituições, as religiões, a política, o discurso científico e outras instituições que produzem e chancelam essa verdade, dentro daquelas três possibilidades do nosso trilema.


Aí vai começar a treta aqui. Se eu fosse desenhar pra você um resumo de como as nossas sociedades se desenharam até aqui e dividiram o seu conhecimento, eu desenharia algo arbóreo, como uma árvore, um conhecimento raiz que sai normalmente da igreja, da universidade ou de qualquer coisa assim e vai se ramificando e se dividindo. O regime dos conhecimentos é visualmente tratado assim pelo menos desde Aristóteles, naquilo que a gente chama de árvore de porfírio, ou a árvore do conhecimento.


Arvore do conhecimento

Esse tipo de sistema, esse tipo de desenho explicou bem a sociedade até aqui por muitos séculos pra entender os regimes de verdade e como o conhecimento se estruturava. No entanto, hoje em dia a gente enfrenta um desafio muito mais complexo, uma sociedade muito mais integrada, com muito mais polos, que não pode mais ser entendida como um simples diagrama de árvore. Atualmente está surgindo uma nova metáfora para substituir essa visualização arbórea, é a ideia de metáfora das redes, de raízes ou rizomas.


Não há mais apenas uma centralidade árvore dentro da internet distribuindo verdades, as redes dentro da internet são descentralizadas, sem lideranças, e aquilo que antes estava no discurso científico, na universidade, na igreja, no governo, pra criar, manter e imprimir esses regimes de verdade, foram completamente desfeitos, muitas pessoas inimigas dessas instituições e amigas da verdade personalizada que elas podem criar dentro do seu próprio bolso.


A palma de um clique, uma nova seita, a palma de um toque, uma nova mentira, uma indústria que lucra milhões com o jogo do tigrinho, medo, paranoia, sem que haja a necessidade de um só líder conduzindo esse processo, e aí não tem como fazer a varredura disso, a dimensão disso, sem o uso da própria tecnologia, não tem como fazer isso de maneira analógica.


Os regimes de verdade vão sendo então feitos apenas nessas pequenas comunidades, e a gente não está mais conseguindo fazer o exercício da comunicação, apenas da comunhão com pares, comunicação e comunhão são coisas um pouco diferentes, e aparentemente estamos cada vez mais treinados para ouvir cada vez mais o nosso próprio espelho, não conseguindo mais produzir comunicação para além da nossa comunhão, e isso é ruim, isso é péssimo, perder esses pontos de contato com a contradição vai aprofundar muito os nossos problemas daqui pra frente.


Agora adiciona inteligência artificial nisso tudo que a gente está falando, como é que você prova que algo é falso se a pessoa viu o vídeo, se a pessoa ouviu um áudio? Toda filosofia até aqui foi baseada em duas coisas apenas, curiosidade e miopia, essa miopia sobre as coisas vocês costumavam se corrigir com os regimes de verdade anteriores, com a ciência, com coisas assim, mas esses espaços estão contaminados, muitas pessoas não querem ouvir as instituições que produzem essas verdades, e isso demanda tempo, não temos esse tempo, chegamos na circularidade do vídeo, eu me sinto como se tivesse inundado de desinformação e o máximo que deram pra gente é um rodo pra secar a cidade, a simplificação do conhecimento, somada a maneira lucrativa que os mecanismos de distorção do real valem hoje em dia, nos deixou num lugar sem saída.


Então pra quem diz, ah, mas mentira sempre existiu, é, verdade, mentira sempre existiu, mas nunca existiu um sistema de recompensas e construção de mundos e verdades no seu bolso, e essa situação que somos colocados pra reagir a essa quantidade massiva de informação é simplesmente delirante, ninguém dá conta, de maneira objetiva mesmo, ou seja, a gente normalizou uma coisa completamente fora da casinha, nunca, nunca antes na história da humanidade tivemos nada próximo a essa possibilidade de por exemplo ser chamado 24 horas por dia na palma da sua mão com qualquer pessoa que você tiver, nunca desligamos os contatos, nada na nossa sociedade foi preparado pra lidar com essa quantidade de contato, informação, disposição, notícia, nada dentro do nosso cérebro tem a capacidade pra lidar com tudo isso, e aí é claro, travamos, ficamos ansiosos, angustiados, uns decidem cair em paranoia, maluquice, e assim vai, tudo isso que estamos passando é apenas sintoma de uma indústria de distorção lucrativa, um sistema econômico baseado nessas distorções do real.


Fake News

Não é à toa que fake news se espalha 70% mais rápido que as notícias verdadeiras, esse tipo de notícia mentirosa age num lugar do nosso cérebro que a gente não tem como não reagir, seja pelo regime da verdade ou seja pelo choque à falsidade, dando mais visibilidade àquele conteúdo, e mais do que isso, mentiras inspiram medo, paranoia, mas também confiança das pessoas, é confortável acreditar em mentiras, enquanto histórias verdadeiras são neutras, ou geram tristeza, alegria, apatia, e talvez, eu estou acostumado a lidar com isso, eu imagino que esse vídeo aqui pode estar causando essas sensações de tristeza.


E aí, putz, por mais que eu tente criar toda uma história, uma jornada e tudo mais, aprender é difícil, olha esse roteiro, ele olhou só a ponta do iceberg desse problema da criação do conhecimento, ele é um resumo da parte 1 desse vídeo, antes da parte licérgica, de sentar a bunda na cadeira por horas de estudar, ler, estudar, ler, estudar, ler, estudar, e aí dá um resumo, e aí você tem a impressão de que você está aprendendo mais aqui no youtube do que lendo, ou numa sala de aula, porque numa sala de aula, é a parte difícil do conhecimento, sentar a bunda na cadeira e ler, aqui é um resumo, uma mãozinha com açúcar, mas aqui não produz conhecimento, aqui é ilusão, o que acontece nessa ilusão inclusive joga ao meu favor, basta eu chamar sua atenção com uma boa história, que eu vou ao seu ouvido, mas precisa de mais, e essa parte que precisa, pode ser considerada chata para um mundo tão acelerado como o de hoje, estudar, ler, refletir, ter tempo para fazer todas essas coisas, viver numa sociedade cujo trabalho permita fazer essas coisas, porque tem muita gente que também não tem nem tempo para respirar e parar para pensar em ler, e nesse momento que você está muito cansado, a maioria das pessoas vai querer ver um vídeo pesado, ou clicar no você sabia para ver os mistérios de ratanabá e 5 coisas e conspirações que você não sabia sobre o michael jackson, ratanabá vai sempre vencer.


Pronto, e se você começou a sentir uma necessidade urgente de debater e conversar sobre regulação e os limites que se impõe aqui dentro, sabe o que vai acontecer? Justamente, as fake news, as pós-verdades, as teorias das conspirações, que são essas três categorias de desinformação atual, vão ficar propagando que regulação da mídia é censura, que discutir fake news é coisa de esquerdista ou sei lá o que, justamente o vírus se replica e não deixa o vírus ser combatido


As ilhas de conhecimento entre as pessoas não se tocam mais aqui dentro, nós só vemos aquilo que nos comunga, essa vontade de se conectar a ilhas e possibilitar a troca de conhecimento entre as pessoas está sendo extinta e a única forma de produzir novos conhecimentos é através da contradição, da troca, não estamos mais fazendo essas conexões, há simplesmente ilhas que não se conectam mais às nossas, por isso que não adianta falar, não adianta usar a lógica, não adianta usar a razão, sua ilha não conecta a dela, não tem mais a paridade nem das palavras, por isso que as duas falam português e ninguém se entende, e o que me angustia é a certeza que nós não estamos agindo com a seriedade e a rapidez suficiente para combater esse problema, eu acredito sinceramente que a gente está chegando num ponto sem volta, a tecnologia avançando rápido demais e criando cada vez mais cisões e conflitos, porque é desenhada dentro dessa lacuna, a lacuna da busca pelo falso conhecimento.


Mas talvez se você está pensando assim, ah então a gente não deve acreditar mais em nada do que a gente vê, é melhor se alienar e coisa e tal, não, não é por aí também, isso quer dizer que podemos, ou melhor devemos estabelecer uns critérios melhores para verificar qual é o regime de verdade que estamos acreditando, é possível aproximar cada vez mais próximo do que funciona, afinal de contas a ciência está aí, a gravidade existe, a terra é redonda, foguetes sobem, eletricidade funciona, existem algumas coisas objetivamente reais, não é pra se perder nesse mar de niilismo de ah não é pra acreditar em nada então, não é isso, é se perguntar, bom, se tudo é um regime de verdade, o regime de verdade que eu acredito é mais inclusivo para a sociedade ou mais excludente, ele gera mais felicidade ao meio ou mais paranoia e medo?


Agora se a sua pergunta é mais no sentido de como é que sai disso aqui, eu sei que normalmente no final do vídeo a gente deixa uma mensagem positiva, mas eu posso ser sincero, eu não sei como sair disso, eu faço muitas coisas aqui a 6 anos, muitas funcionaram, muitas não funcionaram, eu consigo dialogar com diferentes, mas eu não faço ideia de como combate essa indústria de desastres.


E aí eu pensei o seguinte, talvez isso soe até um pouco hipócrita, mas a gente vai chamar de metalinguagem, pra iniciar essa reflexão que chega até aqui nesse beco sem saída e outras pessoas começarem a pensar nas suas verdades e naquilo que acreditam, eu vou fazer um resumo, vou acabar simplificando bem no formato tiktok pra você passar pra sua família ou no grupo do zap, recortei só essa parte, no comentário aqui embaixo você consegue pegar e é isso, vamos simplificar e resumir?


Você sabia que 6 a cada 10 brasileiros não sabe identificar uma notícia mentirosa? E piora! Você sabia que não adianta eu te ensinar ferramentas pra combater notícias falsas? Pois é, chocante, mas vem comigo.


Olha, eu até poderia te dizer pra ficar de olho quando vê um título sensacionalista e não compartilhar, eu até poderia te dizer que ainda assim se você quiser compartilhar, cruze as fontes, veja se saiu em outros jornais, sobretudo aqueles que você discorda, pra não ficar preso só em uma bolha, eu poderia dizer pra você refletir sobre quem ganha dinheiro com aquela notícia, ou quais os sentimentos que aquela notícia está gerando, se for medo, tristeza, paranoia, não compartilhe, ainda assim, enquanto você aprende boas formas como uma formiguinha pra não ser enganado, uma indústria milionária investe muito pra criar mais e mais mentiras e notícias falsas, você não consegue vencer essa indústria sozinho, agora, quem é que permite essas indústrias existirem? As big techs e as redes sociais.


Qualquer tipo de regulação das redes não deveria ser focado no usuário, porém, as próprias redes sociais já criaram essa narrativa de liberdade de expressão, pra te controlar e ter na mão o seu medo, porém, não tem nada a ver com conteúdo, não tem nada a ver com o usuário, enquanto a gente não discutir uma legislação que coloque freio nesse desastre, você continuará sendo enganado.


E aí, tem coragem de cobrar a rede ou vai ser coragem?


É, meio mais ou menos esse final, né? Vai terminar meio triste mesmo, eu sei, eu disse que esse episódio seria um tanto diferente, pelo menos eu fui sincero, mas, pro capítulo não terminar totalmente na bad trip, falta eu te contar uma coisa, agora, na próxima série do Normose, que eu já falei mil vezes que eu tô escrevendo há meses, a que fala sobre afetos e sentimentos na política, os artigos, as palestras e os livros do professor Oswaldo Giacóia, podem ser fontes, e eu consigo entender esse conhecimento.


Eu acho até que, inclusive, vou conseguir entrevistá-lo, quem sabe? Já me sinto pronto. E essas reflexões todas que a gente teve, tirando do vídeo de jovem conservador, também me preparo pra poder gravar o próximo episódio. E se tem uma coisa que me move a continuar, é que o conhecimento dói, é difícil de construir, mas ele vem.


No próximo episódio, então, agora sim, vamos falar da história da juventude conservadora e como as direitas sequestraram a rebeldia pro seu campo político.


Paradoxo da informação

É, se você não tinha percebido até agora, é isso, esse episódio aqui foi mais um daqueles que eu travo e eu coloco uma meta linguagem no meio pra você entender o processo que tá acontecendo, ou porque esse é um jeito mais fácil de cumprir as datas de lançamento, vai saber. Bom, a gente não é perfeito, mas tá tentando evoluir a cada vídeo, se esse episódio tiver algumas falhas na edição, saiba que a culpa é minha, e da correria, e se ele tiver bonito, é porque deu tempo de passar pros editores.


No mais, se quiser aprender, fica por aqui, nós temos mantido a alma de aprendiz ao longo desses 6 anos, e não vamos parar, se puder, financie o nosso trabalho, mas se não, fica suave, fica tranquilo, e nos encontramos na semana que vem, é nóis, e falows. Este texto é uma transcrição automatizada do material original apresentado no vídeo abaixo. Pode conter erros de transcrição. Recomendamos assistir ao vídeo para uma compreensão mais precisa e completa.



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