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Fake News na Economia da Atenção: Guia para o Capitalismo de Plataforma

  • Antologia Crítica
  • 3 de set. de 2024
  • 10 min de leitura

Estes são João e Samanta e eles estão putos. Que absurdo. João se pergunta como animais de estimação com pedigree vão se vacinar antes de crianças pobres.


É o fim dos tempos, eles dizem. Onde é que vamos parar, se perguntam. E realmente essa notícia é revoltante, exceto pelo fato de que ela é falsa.


Samanta compartilhou porque confia em João e nem leu a matéria. João, por sua vez, tem certeza de que a notícia é real porque quem compartilhou foi alguém que ele admira muito e é bastante culto. O amigo culto, por sua vez, só compartilhou porque viu muitos likes na notícia. Ele não estava com tempo de ler a matéria completa. E para eles, só ignorante cai em fake news. A matéria parecia bem razoável.


Sinto lhe informar, João, Samanta e amigo culto, esta é uma crença ilusória. Todo mundo já caiu em notícia falsa. Todo mundo cai em notícia falsa toda hora. Todo mundo.

Opa, suave e tranquila? E é exatamente dessa forma que notícias falsas se espalham na rede. Um título polêmico chamando atenção, uma notícia que mexe com gatilhos da nossa emoção e likes que confirmam a impressão de verdade que algo deve ser compartilhado.


Todos nós podemos passar porcaria pra frente e eu não quero ser parte do problema. E você? É pra isso que montei o vídeo de hoje. Ou uma ferramenta pode nos ajudar a conferir a veracidade de matérias, notícias, fotos e vídeos.


Mas como este canal aqui não é um canal de cartilha, precisamos refletir sobre esse manual e construir um pensamento final juntos, pra que eu não me torne também algo pra você simplesmente replicar sem checar. Então antes de entender a construção desse pensamento, sente seu dedo no like se gostar da proposta desse vídeo e se julgar seguro, confira as minhas fontes e vamos em frente.


Fake News e Capitalismo de Plataforma


Recentemente eu quase caí numa fake news. Eu li uma notícia, parecia razoável e meio que ela concordava com a minha opinião. Porém eu fui checar, porque é meu dever, ainda mais depois que o Normose cresceu e muita gente passou a acompanhar o que eu falo, e a notícia era falsa. Ou melhor, era uma semi-verdade, e nesse momento um sentimento estranho me tomou a cabeça.


Ainda assim, parte de mim queria acreditar naquilo e comecei a notar que é sempre preciso um esforço pra ir contra essa força de querer acreditar naquilo que já concorda conosco. E sendo bem sincero, esse tipo de situação é o que eu tenho mais visto internet afora. Histórias que parecem reais e chocantes, e que dias depois se mostram apenas um ruído de informação ou algo plantado por alguém visando o ganho próprio.


E aí eu fiquei pensando, se eu, que trabalho com fontes, e essa é a minha formação por causa da história e a minha rotina diária é ficar mexendo com isso, e ainda assim eu corro risco e sempre sou enganado internet afora, quanto será que já passou pelo meu filtro e eu não me toquei? Então a primeira coisa que a gente precisa entender é isso, todo mundo cai em fake news, todo mundo, inclusive você, quindinzinho dourado, pudinzinho de sabedoria intelectual que acha que está de um lado ideológico e te coloca acima do bem e do mal. Isto porque, há um estímulo pra todos nós postarmos coisas sem verificar, como já vimos em outros vídeos aqui no canal, funciona assim, temos vieses de confirmação, estes vieses são utilizados por veículos de imprensa ou pessoas má-intencionadas pra conseguir capturar a sua atenção e depois o seu engajamento.

A nossa tendência é pensar assim, isso está de acordo com as minhas crenças? Se sim, eu retweeto e compartilho, se não, eu descarto a informação e finjo que nunca vi aquele conteúdo.


Na era da velocidade, quem publica primeiro tem mais visualizações, mais seguidores, isso tem potencial de se transformar em mais dinheiro de publicidade e, em resumo, as pessoas acabam sendo recompensadas por postar mais rápido. É muito mais negócio pra nossas emoções jogar no jogo da crença e sair compartilhando tudo do que realmente conferir um potencial fato. Isso significa que, não importa quantas vezes nós tentemos desmentir uma notícia falsa, os propagadores de fake news vão vencer.


A velocidade pra desmentir um fato é muito menor do que a velocidade pra criar uma nova notícia falsa. Além disso, o fator desejo é fundamental aqui. O sujeito que compartilha divide crença com a notícia, acredita e quer acreditar naquilo.


Então, ainda que a pessoa saiba que lá no fundo a verdade não é bem assim, o desejo e a recompensa fazem valer a pena arriscar. E é importante entender essa estrutura desejante por trás das fake news, porque uma notícia falsa sempre tá mexendo nesses afetos pra convencer as pessoas. E aí é aquela velha história, né? Uma mentira com like mil vezes torna-se verdade.


Diferente de uma equipe de jornal ou numa pesquisa científica, onde editores checam e verificam as informações, ou pares podem revisar os dados publicados pelas pessoas, na rede o editor chama-se like. Ou seja, quem tem muito poder de engajamento, consegue imputar as semiverdades e confirmá-las pelo compartilhamento. E aí quem se ferra? Todo o resto da rede.



A partir de agora, todos nós temos obrigação social de não acreditar mais em nada e verificar tudo. Sobrou pra cada um de nós, os leitores, o papel de verificar a fonte do que lemos e pesquisamos ou ouvimos. Não é por um acaso que em todos os vídeos eu faço questão de falar em algum momento que as fontes estão no comentário e que é pra você me conferir.


Eu sou só um meio, não sou fonte, eu facilito acesso às fontes. E esse é o modo de transparência que eu encontrei pra fugir dessa lógica cruel do desejo. Então, aprofunde nas fontes dos vídeos.


Mas agora vem o problema. Se nós sabemos que estamos sendo estimulados a compartilhar coisas falsas e isso deforma as interpretações da realidade, então como quebra esse ciclo? Se tudo tem viés, não há mais saída? É claro que eu poderia simplesmente te dizer, basta seguir veículos com credibilidade ou entrar em sites de agência de checagem e voilá. Mas quem checa os checadores? Quem vigia os vigilantes? Hoje há agências sérias de checagem, mas quem garante o amanhã? E é por isso que precisamos nós termos as ferramentas de análise por nós mesmos, buscar autonomia e poder, inclusive diante das leituras de agências de checagem, com o distanciamento necessário de tudo o que lemos, pra que nada se torne verdade universal. Nem esse vídeo, nem você mesmo. Mesmo com o olhar atento, seus vieses te atravessam. Temos opinião mesmo quando não queremos, temos desejo mesmo quando não buscamos.




E foi pensando nisso que eu me esforcei pra criar um pequeno resumo do que eu costumo fazer quando me deparo com qualquer notícia e como eu faço as minhas pesquisas, e chamei esse método carinhosamente de Índice Olavo C, em homenagem ao pai da mentira brasileira atual. Observe, leia, analise, verifique, organize e só então compartilhe. Ou não.



Passo número 1. Observe. Qual é a evidência de que esta notícia é real? Aqui temos dois caminhos, o fato e as fontes. Primeiro vamos debruçar sobre o fato.


Existem evidências de que esta postagem é real? O sensacionalismo do título traduz o conteúdo dentro da matéria?


Estas perguntas preliminares já podem fazê-lo perceber que aquele veículo, site, canal tá mais preocupado em gerar clique sem entregar nada, do que fazer conteúdo. Se isso acontecer, vale ligar o botão da atenção. Agora, caso seja uma foto, como proceder? Bem, você pode começar com uma pesquisa reversa.


O Google Imagens, por exemplo, permite que você confira a origem de uma foto ou postagem. Isso poderá te ajudar a verificar se aquela foto condiz com uma matéria, se uma pessoa indicada é de fato aquela pessoa, ou outros problemas que podem surgir com imagens aleatórias pela internet. Agora, caso você esteja num site de notícias, num vídeo recebido pelo zap ou num canal de Youtube, como esse aqui, como proceder as buscas? Bem, agora é hora de checar as fontes, externa e internamente.


Logo de cara, é possível perceber se um fato indica fontes de embasamento, se as fontes são claras ou transparentes, se citam estudos genéricos e universidades desconhecidas, se não há possibilidade de verificação do que foi dito, ou ainda se as citações são circulares. Ou seja, você confere a fonte e ela indica a notícia, e quando você volta na notícia ela indica a fonte. Se isso acontecer, farolete gigante que você está diante de uma cilada.


Agora, caso tenha fontes indicadas, é hora de checá-las. A fonte tem autoria, é uma fonte legítima, com credibilidade em vários outros locais? Faz o seguinte, pesquisa o nome do veículo, do autor, da autora, e veja o que mais essa pessoa está produzindo. Busque críticas sobre o assunto para verificar pseudociências, charlatões ou receitas mágicas de cura ou de leitura do futuro ou de como mudar o seu corpo do dia para a noite.


Se um fato promete ser o remédio de todo mundo, cuidado. Agora, se passar nesses filtros, é a hora mais legal da pesquisa. Faça leitura lateral, ou leitura das mil abas.


É hora de comparar materiais e aprofundar a pesquisa. O que outras fontes falam sobre o assunto? Ao invés de encontrar um fato na internet e descer a timeline buscando ler comentários, mude. Faça uma pesquisa lateral.


Abra outras abas e mão na massa. Se a internet de fato nos trouxe muitos problemas com as notícias falsas, é também na internet que a velocidade de pesquisa comparativa ganhou muita força. Encontre artigos científicos sobre o assunto em plataformas como o SciELO ou o Google Academics.


Compare o que cada uma das fontes estão falando. Se um escândalo for muito absurdo, muito espetacular e não existe mais nenhuma fonte do mundo repercutindo, é melhor não compartilhar. Mas ok, a notícia passou nas leituras laterais? Ótimo. É hora de postar pra geral? Ainda não. Agora é hora de olhar pra linguagem. Textos com linguagem carregada de adjetivos ou conotação pejorativa tendem a trazer informações distorcidas.


Textos com linguagem genérica e vaga, falando de estudos que apontam sem dizer o estudo, cientistas que dizem sem citar os cientistas e cuidado com textos que se utilizam de hipérbole toda hora, tendem a ser teoria da conspiração. O próximo passo é quase instintivo e natural. Analise.


Quem está por trás da informação que estou lendo? O veículo é claro de qual metodologia é utilizada naquela matéria? Existe algum interesse de propaganda ou financiado dentro daquele veículo? Se sim, é um financiamento sujo ou um apoio honesto? No próximo passo, verifique qual o viés da matéria e como esse viés está inserido dentro daquela notícia. Se todos temos opiniões e não existe jornalismo neutro, quais as escolhas de foco daquela matéria? Como os posicionamentos sutis estão colocados na notícia? E como isso atrapalha ou não aquilo que está sendo dito? Redes sociais são um começo, mas não a melhor fonte. Um simples fato de uma pessoa escrever e você gostar daquilo que ela falou, não faz aquilo uma informação correta.



Redes sociais são sempre meio. Tente chegar nas fontes, buscando deixar de lado o que é emoção e discurso inflamado. O que nos leva ao próximo passo de checagem. Quais afetos e ressentimentos esse conteúdo pode provocar? Essa análise é a mais subjetiva de todas.


Tente buscar em você como aquele fato ou aquela notícia te afeta. Te deixa pistola? Vai deixar os outros pistola? Você quer deixar os outros pistola? Isso lhe causou uma reação emocional desproporcional ao fato? Eu diria pra você checar duas vezes antes de compartilhar. Notícias inventadas sempre são feitas pra causar a grande surpresa, repulsa ou nojo. Os maiores afetos do compartilhamento. Se algo te faz ficar muito bravo ou muito feliz, eu diria que vale uma checagem dupla. Se algo é muito fora do real e depende de muitas condicionantes pra ser verdade, provavelmente não é verdade.


E agora que você passou por todas as etapas de análise, é hora de se perguntar. Vale a pena o compartilhamento? Pense bem antes de compartilhar e dar atenção a um conteúdo. Lembre-se da economia da atenção.


Quando eu coloco esses filtros de análise, eu sempre acabo me aprofundando mais sobre o assunto, ganhando muito mais conhecimento do que só compartilhando. É nesse momento que você tem que decidir, e é nesse momento que precisa vir à reflexão. Se você não encontrou a origem de uma notícia e decide compartilhar, você passará a fazer parte do problema.


É isso que você quer pra fazer uma internet melhor? Acho que não. Agora, se uma informação passou em todos esses filtros de análise, então é hora do contrário. Compartilhe e recompense esse trabalho.


Se a rede está empodrecida de conteúdos tóxicos, é preciso reflorestar a rede. Encher o ecossistema virtual de sementes de qualidade. Avisar as pessoas. Ó só, eu encontrei esse artigo, esse vídeo, esse canal, essa notícia, essa matéria, esse jornal, que são de boa qualidade. Então você deve seguir essa pessoa, esse veículo, ou seja lá o que for. Será que é possível ainda constituir afetos renovadores dentro da esfera da internet, ao invés de só ficar preso dentro de ressentimento e desejo de pertencimento?


Vamos reflorestar a rede com conteúdo de qualidade.


Considere muito o poder que você tem ao compartilhar algo. Na economia da atenção, cada like é como uma moeda de ouro. Não importa se você é uma conta pequena ou um grande influenciador, todos têm potencialidade de plantar sementes nos campos online.


Como você vai lidar com a economia da atenção? Que ideias coletivas você tem pra gerir esse cassino de emoções? Eu quero real ouvir ideias e conversar nos comentários pra que a gente transforme isso aqui num mar de ideias pra quem lida mal com ansiedade, tem falta de foco e atenção. Como resistir no capitalismo de plataforma? Esse é um problema nosso e agora que eu fiz a minha parte entregando esse vídeo, eu conto contigo fazendo a sua parte, me colocando lá nos filtros de análise e vendo se vale a pena compartilhar esse canal. Confira as minhas fontes, se puder assina o cartaz do canal ou me envia um pix que é o que tá sustentando todo esse trabalho há alguns anos.


Eu te encontro por aí, fica suave, fica tranquilo, duvide cheque tudo, é nóis e falows.


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Este texto é uma transcrição automatizada do material original apresentado no vídeo abaixo. Pode conter erros de transcrição. Recomendamos assistir ao vídeo para uma compreensão mais precisa e completa.


Normose - Manual pra NUNCA mais ser enganado! As 6 leis contra estupidez!



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