Fim da privacidade dos dados e Capitalismo de Vigilância
- Antologia Crítica
- 4 de ago. de 2024
- 25 min de leitura
Atualizado: 23 de ago. de 2024

A internet é construída sob uma barganha bem sem vergonha. Tudo aqui dentro é erguido dentro de um acordo implícito. Obtemos acesso gratuito a sites, aplicativos que facilitam a nossa vida, redes sociais que deixam tudo à sua mão, num shopping dos seus gostos ou num cassino das suas emoções.
Em troca, as empresas pedem apenas os seus dados, num futuro anunciado como o fim da era da privacidade, dito pelo próprio Mark Zuckerberg em 2009, um dos reis da internet. Pra provar isso na prática, eu repliquei um teste que eu vi por aí na internet, o link tá aqui na descrição. Eu chamei os meus amigos e pedi autorização pra poder stalkeá-los apenas com os dados simples, nome, coisas que tão públicas no Instagram.
Só com isso, deu pra encontrar onde fizeram faculdade, qual o nome de vários parentes, professores, onde estudaram, onde trabalharam, sem contar os dados de Jus Brasil, que tão lá aberto pra todo mundo ver, o número do CNPJ, o número do MEI, é assustador. E piora, pra mim, eu solicitei aquele pacote de dados mais completo do Google e tudo que tinham coletado com a minha autorização. Isso já faz alguns anos que eu parei de conceder dados, mas tava lá.
De fato, dentro do meu relatório ainda tinha lugares onde eu fui, algumas fotos antigas que eu tô marcado no perfil dos outros, e muitos desses dados foram utilizados quando eu fui descoberto em 2019 e acabaram com o meu anonimato. E bem, eu não posso nem reclamar, porque de alguma maneira eu assinei um contrato, né? Pois é. Agora mistura todo esse caos que você já sabe que acontece a essa máquina de Inteligência Artificial sendo alimentada cada vez mais. A partir do dia 26 de junho, todo o seu comportamento online nas redes Meta, Facebook e Instagram passarão a alimentar a Inteligência Artificial dessa empresa.
Privacidade dos dados na Era do Capitalismo de Vigilância
A partir de 26 de junho, Instagram e Facebook vão utilizar propagandas, fotografias, legendas, comentários e stories de todos os usuários pra treinar as suas IAs de texto, geração de imagem, legenda, roubando e modulando o seu comportamento. Mas aí você pode estar pensando, ah, mas eu não devo nada, quem não deve não teme. Pronto.
Quando a gente diz isso, naturalizamos o fim da privacidade. Bem-vindo à era do capitalismo de vigilância. Opa, suave e tranquilo por aí? Não é estranho pensar que cada passo que a gente dá aqui dentro é monitorado e medido? Não é estranho pensar que a partir dessa medição do nosso comportamento online, planos de saúde ou agências de seguro possam te cobrar mais ou menos analisando esses dados? E não adianta mais sair desse vídeo, fechar a janela também é um outro marcador de dados que vai servir pra alguém analisar o seu comportamento.
Hoje vamos falar sobre a história da privacidade mudando ao longo do tempo, capitalismo de vigilância e porque essa ideia de que eu não devo nada é tão perigosa. Mas calma, ao contrário do que parece, esse não será um vídeo pessimista, ok, talvez um pouco. Mas um vídeo de convocação e proposição pra algumas ações, uma saída coletiva pra todo esse caos dos dados.
Esse aqui é mais um episódio da série Delírios, que começa buscando um fio que parece simples, vai amarrando num outro, num outro, num outro e chega num dilema. Vamos conversar sobre isso, essa é a introdução, espero que você goste, like, sininho, inscrição e bom vídeo. Bem, já que a gente quer falar de fim da privacidade, a primeira coisa antes de assumir a hipótese é se perguntar, será que a privacidade realmente morreu? Mas pra isso, é preciso olhar de fato pro que realmente é a definição de privacidade e todos os seus conceitos, porque cada um parece querer dizer uma coisa quando a gente fala desse assunto.
O vocábulo privacidade tem raiz latina, privatos, o que pertence a si mesmo, que é colocado à parte fora do coletivo e do grupo, que constrói uma ideia de indivíduo. No antigo direito romano, a oposição entre o público e o privado tinha a ver com a separação do que é permitido aparecer pra todos versus o que é secreto e essa noção do que não deve ser mostrado em público ou do que não deve ser informado e disponível da vida íntima de cada um. Mas pro final da idade média, começam a surgir essas visões de individualidade, porém, ainda numa sociedade feudal, você dependia de solidariedades coletivas pra sociedade caminhar.
Ninguém tem nada seu, nem mesmo seu próprio corpo é seu, sem que esteja marcado necessariamente por correntes, elos pra sobrevivência, duas, três ou quatro famílias, inclusive de classes mais altas, que dividiam local de moradia, que dividiam todos os segredos pra que pudessem se preparar e viver em sociedade. O livro História da Vida Privada, da Renascença ao Século das Luzes, organizado por Roger Chatier e George Duby, vai trazer uma ideia de que nas vilas todo mundo sabia da sua vida, não existia a noção de privacidade, senhores feudais, por exemplo, tinham a cama protegida por aquele véu, porque em volta deles haviam os guardas e as camareiras, que dormiam ali, no chão, a ideia de privacidade era muito mínima, então os hábitos começam a ser moldados, os nossos dejetos passam a ser encobertos e a possibilidade de isolamento começa a virar uma moeda de troca, um privilégio de poucos, ou daqueles que se privam de viver em comunidades, vivem isolados. A partir desse momento, a ideia de casas e famílias de poder passa a ser vista não apenas como um local onde se discutiam questões de menor relevância, mas sim o centro da representação do poder político das nobrezas daquela época.
Daí porque algumas casas passam a ser ligadas a grandes dinastias, tipo a Casa dos Habsburgo, a Dinastia Aragão, a Dinastia dos Tudor e assim por diante, é nas casas que se tem a privacidade pra discutir como controlar o público. Em resumo, num geral os indivíduos não tinham o direito de se reservar ao silêncio ou de ficar sozinhos, a não ser que tivessem poder, e pra obter privacidade era preciso ter cada vez mais controle sobre os corpos. Com a queda da Idade Média e crescente ascensão da burguesia, o isolamento vai virando moeda e começa a ser visto como um direito importante pras pessoas.
A privacidade começa a ser vista mais de uma coisa material, tudo aquilo que é pessoal, de propriedade privada, abre aspas: “o burguês apropria-se dos espaços, levantando novas barreiras, buscando a proteção de um local apenas seu, revelando uma ascensão da nova necessidade de uma intimidade, a intimidade da propriedade. Além das divenções políticas e econômicas, a mudança de percepção de público e privado também é interna, manifesta-se como uma forma de expressão da nossa personalidade. E é só agora que regras de etiqueta, comportamento e civilidade começam a moldar essa vida privada, promovendo o controle das emoções e a privacidade nas interações sociais. Com este controle das emoções é que se mantinha o poder nas sociedades.”
A Evolução da Privacidade: Da Sociedade Disciplinar ao Capitalismo de Vigilância
Com o passar dos tempos e a eclosão das revoluções industriais, houve uma brusca modificação no conceito da privacidade, agora com consequências na superação entre o público e o privado, passando o indivíduo a buscar proteção jurídica nos espaços livres de vigilância. Então esse direito à privacidade, propriamente dito, como uma ideia jurídica, uma lei, uma justiça, positivando, é algo bem recente.

Chatier e Duby dizem que exatamente essa pluralidade diferente de definições entre privado e entre público, é a própria definição de público e privado, uma disputa de adestramento dos corpos para gerar disciplina. Por isso, nós estamos vivendo na era do que vem sendo chamado até há pouco tempo de sociedade disciplinar. Essa governança absoluta perdurou em algumas sociedades até o século XVIII mais ou menos, e o marco simbólico dessa transição é a Revolução Francesa de 1789, onde o controle do soberano amadureceu para o início de sociedade disciplinar.
Adentramos um período de capitalismo de concentração, de produção e de propriedade. Como consequência, o centro deixa de ser o rei e se volta à produção e ao consumo. O poder agora se impõe a partir de normas.
As pessoas passam a ser ordenadas em hierarquias de poder, porque era entendido que pessoas disciplinadas seriam melhores produtores. E o melhor jeito de disciplinar alguém é a partir da produção de regras ou condutas de comportamento, isso para que, em contraste, seja possível impor quais são os desvios, quem são os anormais, ou segue as regras ou será marginalizado, demitido ou preso. Mas você pode escolher, você é livre, querido.
O poder começa a se camuflar e ficar difuso. Ou seja, privacidade não é apenas determinada só pela acessibilidade que alguém pode ter, mas pelo controle, confiança e uma obediência a um conjunto de fatores de um certo período para ser aceito nessa sociedade, vamos dizer assim. Mesmo erro pode ser o padrão e você é forçado a se adaptar numa doença de normose.
Biopolítica e o Panóptico Moderno: A Ilusão da Vigilância Constante e Seus Impactos na Sociedade
É a biopolítica, se entranhando pelas redes de poder e dominando por coerção social. Sabe quando você entra numa loja e você sabe que tem alguém te observando através de uma câmera? Isso automaticamente muda o nosso comportamento, né? Agora imagine uma sociedade toda formada por esses olhares sociais que podem te julgar e te espionar a todo momento, ou não, vai saber. Vamos agora em 1791, as prisões na Inglaterra estavam super lotadas e não havia guardas suficientes para manter a ordem.
Então um filósofo inglês chamado Jeremy Bentham projeta um novo tipo de estrutura de prisão, chamada panóptico, que permite que todos os presos fossem observados o tempo todo por um único guarda. Na visão panóptica, cada preso era separado em uma cela que ficava voltada para uma torre de guarda. O guarda na torre ficava num vidro escuro e olhava de dentro pra fora através de uma pequena janela coberta por persianas.
Como os presos não podiam ver o guarda da torre, isso criava a ilusão de que estavam sendo vigiados o tempo todo. Esse design tem um impacto tão grande no comportamento dos presos ali dentro, que todos os motins e resistências acabaram. Só de saber que estavam sendo vigiados era o suficiente para mantê-los presos na linha.
Onde vivemos agora também temos essa sensação, nós nunca sabemos se estamos ou não estamos sendo vigiados e passamos a nos comportar toda hora. Essa ideia de torre de vigilância passou a funcionar também para escolas, igrejas, empresas privadas e governos. Em nome da segurança, a partir desse momento passou a existir um interesse de poder e disputa mais milionária pelo controle, pelas suas informações, pelos seus gostos, pelos seus hábitos, para poder delimitar uma norma, uma lei, do que pode e não pode ser visto, do que pode e não pode ser sentido, quem tem mais poder de coletar dados, vence, com a justificativa que é para melhorar a sociedade.
O preço da liberdade é a eterna vigilância, já ouviu isso? A vigilância então passa a ser naturalizada, mas para que isso funcionasse, nem era preciso ter um guarda na torre, tudo o que era necessário era o medo de ser potencialmente vigiado, essa possibilidade cria uma prisão dentro da sua mente. E o mesmo princípio foi levado para escolas, hospitais, aeroportos, locais de trabalho e em todo lugar, você nunca saberia quando está sendo vigiado, e isso é o suficiente para mudar o seu comportamento, é só pensar por exemplo no que acontece na cabeça das pessoas que participam de reality show de confinamento, geral fica doidão o maluco. Hora de gritar! É igualzinho o BBB.
Mas você tá entendendo que a privacidade que nós prezamos tanto e que parece ser algo que sempre teve por aí, não é bem verdade e durou muito pouquinho na nossa sociedade. Vivemos então uma ilusão de privacidade, e a batalha pela privacidade no plano do indivíduo desse jeito nas redes sociais foi perdida. Mas pera lá, se eu te oferecesse viciar e ser explorado por alguém, a não ser que seja algo de fetiche, você não ia aceitar, certo? Então como monitorar as pessoas? Ou melhor ainda, sem que elas percebam ou até colaborem com o seu monitoramento.
Esse sempre foi o sonho de qualquer monarca ou agente de espionagem lá atrás, até que nasceu a rede social, um espaço de coleta de dados, voluntário, feito por você, dentro de um espaço confortável, que todos seus amigos estão ali, a mão, que nós utilizamos para comunicar, para comprar, para ver nossos parentes distantes, ao preço das empresas guardarem tudo isso para negócios, para guerras, para manipulação. O que nos leva a um primeiro entrave. A privacidade que falamos até aqui é uma privacidade pensada a partir dos modelos de sociedade sem as redes sociais, sem algoritmos, sem um instrumento de controle do seu comportamento.
Então, será que também não está na hora de discutir uma outra ética da privacidade, uma outra compreensão de valores a partir das tecnologias que nós temos? Muitos estudiosos, por exemplo, argumentam que a natureza da privacidade mudou e que por isso essa privacidade que quem nasceu ali até os anos 90 e pouco pegou, agora é outra coisa. A coisa começa a ficar bem preocupante com essa vida privada, nessa militarização do ciberespaço. É dormir com vigilância constante, com o soldado medindo literalmente cada respiração sua ao seu travesseiro.
Governos e o Controle de Dados: A Ilusão do Consentimento e a Realidade da Vigilância
Até os governos mais democráticos têm interesse nesse controle de dados como um poder de guerra. Não à toa, por exemplo, que basta uma ação do Wikileaks divulgando dados dos governos que nunca seriam mostrados e podres que o governo faz questão de esconder. Que tudo aconteceu com Julian Assange, que ficou 15 anos preso e só foi libertado agora, porque divulgou informações, mostrou segredos.

E isso porque todo mundo sabe que é bem ingênuo que o Wikileaks divulgou tudo. Tem muito material, empresas poderosas, coisas que ainda não vazaram. O Wikileaks é só uma pequena parte do conteúdo, e mesmo assim gerou tudo isso pra Julian.
Em outras palavras, privacidade é ilusão. A ilusão do consentimento. Um ótimo jeito que as empresas arranjaram pra respeitar sua privacidade são os contratos e os termos de consentimento, colocar você pra se sentir no poder de que aceitou aquilo que tá acontecendo e isentando as empresas de qualquer tipo de problema gerado dali pra frente. E veja, essa é uma ideia genial.
Quem vai ser contra o consentimento? Quem poderia desconfiar que o consentimento, que é pra gerar mais proteção e segurança pra você, pode ser o contrário, uma autorização pra ter roubado seus dados. Esses avisos de contrato são muito complexos, porque as coisas ali são complexas, e eles são difíceis de entender, tem uma linguagem extremamente técnica, rebuscada, e ainda é desse tamanho. E se você não aceitar, seu celular vira um grande pedaço de metal inútil.
Você precisa aceitar os termos pra usar um aplicativo, certo? Toda semana você precisa atualizar o sistema, eles vão oferecendo uma coisa melhor aqui, uma coisa melhor ali, até que de repente, para. As atualizações começam a travar, teu celular vai começando a entrar em obsolescência programada e você precisa trocar o aparelho. Se você quer um celular, você precisa aceitar os contratos de termos.
Quando usamos qualquer serviço digital, primeiro a gente tem que falar SIM para os termos e condições. E todas as redes grandes, quando você assinou, você disse, pode pegar meus dados, pode incluir minha conta, pode fazer o que você quiser, pode alimentar sua inteligência artificial com meu comportamento, e pode ficar com todo o dinheiro, não me remunerando nada por isso. E até beleza, você pode falar não e não ter aquela tecnologia.
A Ilusão de Escolha: A Vigilância Constante nas Nossas Vidas Diárias

E nas ruas, nos parques públicos, lugares que são obrigatórios ter câmera, você consentiu com essas filmagens? Você assinou um contrato que você não quer ser filmado por uma empresa privada oferecendo dados pro governo? Não. Não temos escolha sem alguma regulação das mídias. E mais, você consegue um emprego sem celular hoje? Você consegue novas entrevistas se estiver desempregado? Você continuará lendo jornal e só TV, sem nenhum veículo online pra te informar? Não vai.
Inclusive tá rolando uma exclusão social de pessoas que são analfabetas digitais. Não tem o domínio pra, por exemplo, marcar uma consulta de médico, porque a consulta é online e ela não sabe fazer e não tem mais outra forma de fazê-lo. Ou seja, ou você aceita, ou você aceita.
Não temos escolha. E eu sei que as pessoas não gostam de ouvir isso e vai incomodar, mas nós somos bem mais robôs do que pensamos e temos muito menos controle das coisas que fazemos aqui dentro do que gostamos de imaginar. Por exemplo, se o YouTube simplesmente não divulga mais meus vídeos porque mudou, sei lá, um parâmetro que agora os vídeos longos são simplesmente apagados, pronto, em dois ou três meses eu sou esquecido.
Eu não tenho nenhum seguidor, quem tem é o mediador, a plataforma, que tem todos os dados por aqui. E agora, vamos ser sinceros, você lê termos de uso? Você realmente lê tudo que tá escrito ali antes de falar sim? Se você lê, parabéns, você faz parte dos 3%, sim, 3% das pessoas que leem contratos e termos de condição.
Nós já naturalizamos tanto a exposição que quem é low profile, posta pouco, passa a ser visto como alguém que tem algo a esconder, existe um sentimento de que as pessoas que querem privacidade querem esconder alguma coisa, que somente as pessoas má intencionadas se importam com privacidade, e isso não é verdade. Então vamos falar agora do primeiro mito, eu não preciso me preocupar se eu não devo nada. Para uma resposta mais suave, eu poderia dizer que não é só uma questão de ter ou não algo a esconder, é mais sobre se você deseja ou não compartilhar algo, mas se você não tem nenhum dado a esconder, eu não queria mentir pra ti, desculpa, provavelmente você não tem vida.
"Beleza, avançar, avançar, avançar, termo de contrato que ninguém lê, tá, pula tudo e ok. Boa tarde, senhor, estamos aqui para tomar a sua casa. Oi? Senhor, preciso que tire sua roupa, me dê seus pertences e todas as senhas dos seus dispositivos.
Do que você tá falando? Aqui, página 43 do seu contrato com a Hotmail, que autoriza a empresa a roubar a sua casa depois de você assinar o contrato sem ter lido... 100 vezes. Mas eu assinei isso, eu tinha 16 anos de idade, Hotmail. Exato, o senhor mentiu quando perguntamos se o senhor era maior de idade.
Tá aqui, ó. Mas foi só quando eu tinha 16... Errado, página 73 do Google de 2022, quando perguntamos pro senhor se tinha certeza que você faria tal estupidez, você disse, ah, eu não devo nada pra ninguém. Então, contrato é contrato, não, senhor? Beleza, contrato é contrato, né? Tá aqui tudo que eu tenho, o meu cartão e... " Quem diz isso tá falando de forma míope, privacidade como forma de sigilo. E não é exatamente isso, por exemplo, você não deve nada, mas as suas finanças não são exatamente um segredo profundo.
Você não sai contando por aí quanto você ganha, quanto você investe, quanto você paga nas coisas, e se você não acha isso, coloca aí os seus dados pessoais, o número do seu cartão, frente e veste, aquele numerinho atrás pra gente ver, é tudo aberto, não é? Não, todo mundo tem algo a esconder, mesmo que seja só o seu número de cartão de crédito, ou o tipo de cueca que você usa, ou se você tem algum pensamento sombrio, algum fetiche diferente, você tem o direito de guardar isso pra você. Então mesmo que alguém não esteja fazendo nada de errado, é muito importante manter os seus registros longe de pessoas poderosas, de empresas, de negócios, de usos pra guerra, pra tecnologia e coisa e tal. Acho que não é difícil de entender, não é? A privacidade é uma preocupação coletiva, uma preocupação, portanto, política, e não apenas individual.
Quando se trata de dados digitais, fotos, conversas, informações de saúde, finanças, nada disso poderia ser comercializado. O governo e o mercado não querem entender sobre o indivíduo, mas sobre os padrões de consumo pra moldar novos nichos de mercado. Você pode ser impedido de se qualificar pra um emprego, por exemplo, ou ter negado seu pedido de financiamento por um apartamento por causa dos seus dados financeiros de compras nos últimos meses que você concedeu na internet.
Ou pode até perder a oportunidade de um emprego por causa da exposição que você mesmo colocou nas suas redes. E alguém do RH pode ver. Por que você acha que é altamente recomendável que você tranque a porta da sua casa antes de ser assaltado, mesmo que você mora em uma área segura? A afirmação de que você não tem nada a esconder vem de uma posição muito privilegiada ou delirante.
Por exemplo, Mark Zuckerberg teve e ainda tem interesse nos seus dados e prega que privacidade é coisa do passado, mas a privacidade é mais relevante do que nunca e a prova disso é que o próprio Mark Zuckerberg comprou todas as casas em volta da região pra ficar em privacidade, afastado de todos. 30 milhões só comprando a casa dos vizinhos. Eu imagino também que você gostaria de ter o direito e o controle das informações da sua família.
Eu imagino que você não queira que seus filhos sejam expostos na internet. E agora que todo mundo tá entendendo a importância dos dados, o discurso de Mark mudou. Agora ele diz que o futuro é privado.
E você sabe o que isso significa, né? Significa que ele tá metendo louco porque ele fala publicamente uma coisa e diz outra porque aplica aquele velho conceito de eu não como no lugar que eu conheci a cozinha. Privacidade é coisa e privilégio de ricos. Essas pessoas podem se dar ao luxo de esconder dados financeiros, criar paraísos fiscais para tirar sua grana daqui, proteger a identidade, sair do país quando precisa, contas offshore.
Por isso que elas não tão nem aí pra sua privacidade. Aliás, é a sua falta de privacidade que faz com que eles acumulem bilhões pra gastar nas suas próprias privacidades. [inserção de publicidade]
Então, entenda de uma vez. Não é sobre você, Ricardo Silveira, ou você, Bruna Gonzaga. E eu acho que agora eu acabei de plantar uma sementinha e uma paranoia pra quem tem esse nome aqui nos comentários.
É sobre uma estrutura, é sobre política e é sobre moldar comportamentos a partir da rede. É algo social muito maior do que você. Existem empresas de data broker que apenas compilam dossiês pra nichos de mercado pra venda.
Então não é só o Google, o Facebook e esses que você conhece que tem os seus dados. Tem um monte de seguradoras, empresas de banco, empregadores, qualquer. Por que que às vezes você acha que a gente recebe um monte de ligação sem parar de números desconhecidos? Aonde foi que nossos números vazaram? Aonde foi que nossas pegadas digitais foram deixadas por aí? Por isso que o espaço digital é construído desse jeito, onde não há mais uma fronteira entre público e privado.
Por isso que a gente é tão incentivado a compartilhar nossa privacidade nas redes. Por isso que a gente tá sendo treinado pra ter essa cultura de não privacidade. De exposição.
Exposição gera dados, dados gera grana. Fim. E se antes, o Google até tentava dizer que ele não usava as gravações pra nada, só transcrevia o áudio pra personalizar anúncios? Agora é mais descarado.
Produtos como o Adobe e o Facebook estão mudando seus contratos pra que todo seu comportamento online seja roubado. E o que você vai fazer quando essa hora chegar? Vai ficar muito puto? Não. Vai clicar sim no contrato.

Fudeu. Mas até onde isso é exatamente movido por você, pela sua razão, e não por uma máquina de comportamento, de moldagem do comportamento, como diz Shoshana Zuboff, que está ali, a todo momento, tentando te seduzir pra apostar mais, mais e mais? Ou seja, é uma troca muito desigual. Seria preciso urgentemente inverter essa lógica.
A rede nos servir, e não nós servirmos a rede. Mas isso não é tão simples quanto a bela construção sonora dessa frase. Imagine um videogame de guerra.
No jogo, não importa quem é você na vida real, ou o que você tá pensando. O que importa é como você joga e interage no jogo. Só.
Não importa se você vai dar hate, se você é de esquerda, se você é de direita. Se você reage à máquina, você concede dados. E o que é desigual é que essas empresas sabem tudo sobre você, e você não sabe nada sobre elas.
O que importa é que aqui é um laboratório de comportamento, e nós somos ratinhos correndo atrás de consumo, consumo, consumo, consumo, consumo. Só por isso a nossa privacidade não está sendo protegida. Por razões estritamente econômicas, financeiras.
E aí, chegamos a mais um mito. Quando o produto é de graça, o produto é você. Buy it, use it, break it, fix it, trash it, change it, melt it, upgrade it, technologic.
Olha, nessa parte do vídeo, eu poderia tentar começar a fornecer um guia de privacidade. Dizer não revela suas informações pessoais pra quem não necessita delas. Se uma organização solicitar seu e-mail sem necessidade, forneça um e-mail fictício, um e-mail alternativo só pra cadastros.
Assim como você deveria ter um telefone pra cadastros, um telefone gerado, número falso, pra que você possa usar em aplicativos. Nós deveríamos parar de usar o Google e passar a usar o DuckDuckGo. Inclusive, no limite, a gente tinha que parar de usar o WhatsApp e ir só pro Signal.
Eu poderia dizer pra você não ser conivente com a vigilância de massas, eu poderia até dizer que você deveria treinar a prática de sair dos mediadores, sair das redes e parar de estimular práticas de mau compartilhamento das coisas. Mas você já sabe disso, você tá cansado de saber disso e vamos ser sinceros, você vai mesmo largar o Google? Você vai mesmo não usar o WhatsApp? E vamos dizer que esse vídeo aqui exploda, tenha 50 milhões de views e todas as pessoas sejam convencidas disso que eu tô falando. Sabe qual vai ser o impacto? Nenhum.
Outras pessoas vão usar e pronto. Invocar uma saída individual, portanto, é uma cilada. Existe uma necessidade de se sentir parte daquilo como algo que é seu, seu vínculo.
Seus amigos que moram longe estão lá, seus amigos virtuais estão lá, suas conexões até de trabalho estão no Instagram. Não é tão simples mudar um hábito. Nós vamos manter uma lei do mínimo esforço com a tecnologia e vamos sempre procurar o que é mais conveniente, o lugar onde todo mundo tá e não qualquer parâmetro de segurança ou algo do tipo.
É um treino que exige muita prática e é algo estrutural mais do que qualquer coisa. Estrutural no sentido de estruturar os nossos comportamentos, debates, políticas, formas de agir, de pensar, de sentir e assim por diante. Toda vez que eu falo de tecnologia eu relembro aquele estudo do Facebook que, sem autorização, colocou postagens na timeline das pessoas pra testar quanto tempo elas demoravam pra compartilhar um conteúdo e quais emoções elas sentiam nisso.
Bastam 3 ou 4 posts na timeline pra que o quinto seja o seu participando daquela emoção, sobretudo se ela for uma emoção de raiva ou de ódio. E a rede é construída na base do conflito. Existe uma modulação algorítmica que leva a esse conflito.
E por isso, aquela citação famosa que a gente sempre repete por aí que se você não está pagando por isso, você é o cliente e não o produto, já não é mais por aí. Eu mesmo uso muito essa expressão aqui porque ela explica muitas coisas da internet sim, até a página 2. Agora, com a inteligência artificial e outro patamar de modulação desses dados, a coisa mudou. Agora você tem que pagar, e ainda é o produto.
Você paga Globoplay, Netflix, ainda tem que assistir propaganda e tem os seus dados extraviados. Então, sendo o produto grátis ou pago, agora você está sendo roubado. Há um desequilíbrio muito grande no controle de quem pega esses dados.
E por isso que eu acho que dizer basta sair das redes, ou faça isso, ou faça aquilo, ou 10 razões pra sair do Face, não adianta muito. Individualmente, de fato, desintoxicado isso aqui faz bem danado, eu mesmo saí do Twitter, mas não é tão individual. Há uma indústria toda só pra pensar no User Experience, pra você manter cada vez mais presa a pessoa dentro daquela rede.
O fato de você não saber o básico de como a internet funciona, e como a criação de valores caminha aqui dentro, é que nos deixa tão vulneráveis ao que está acontecendo. É por falta de conhecimento, ou é falta de consciência, ou é porque somos um pouco preguiçosos, ou os três. É muito mais fácil ter ali o celular na sua mão, usar, não questionar, não pensar nada e já era.
E agora caímos num dilema mais filosófico mesmo. O que é consentimento? O que é privacidade de fato? E quais são as saídas daqui em diante? E se você está começando a perceber que se eles moldam os sujeitos, criam nichos de consumo com as coisas do passado, por que eles não podem fazer isso também com as coisas do futuro, prevendo os comportamentos ou criando esses comportamentos, induzindo-os? Se você pensou isso, você chegou, sem querer, na tese de capitalismo, da vigilância e algoritmos preditórios, de Shoshana Zuboff, que sempre citamos aqui no canal. Shoshana introduz o conceito de excedente comportamental, que se refere aos dados excedentes coletados além do necessário para melhorar os produtos e todas essas propagandas que eles fazem.

"Esse excedente é utilizado para prever comportamentos futuros de usuários. Porque, desde o começo, esses foram mais dados do que era necessário para melhorar produtos e serviços. E isso me permite encaixar seus dados direto nesse arco e preditar o que você é capaz de fazer, não só agora, mas em breve e depois."
Quer dizer, de um modo bem simples, bem esdrúxulo simplificando, seria o seguinte. Por exemplo, identifica-se lá que você alugou um hotel numa praia. Dali a pouco, no outro dia, você comprou um protetor solar.
Dali a pouco, vai começar a aparecer anúncios de canga, de biquíni, de maiô, de óculos escuros, não sei, prevendo um futuro e se antecipando na venda dessa parada. É sinistro o jeito que funciona. Leia o livro da Shoshana, vale a pena.
E aqui vai o nosso momento Letícia Cesarino. Algum momento eu sempre tenho que citá-la quando a gente fala desse assunto. Abre aspas.
"A gente tem que estar olhando o nível relevante de causalidade no nível do ecossistema, no nível do ambiente e não apenas o nível de conteúdos específicos ou de agentes específicos ou de relações causais lineares, porque não é assim que esse tipo de ambiente funciona. Às vezes eu gosto de dar exemplos simples para qualquer pessoa que está ouvindo conseguir entender. Então pensa num peixe dentro de um aquário e aquela água começa a ficar suja.
Então como é que a gente vai resolver aquele problema? A gente vai fazer educação aquática no peixe para ele respirar menos aquela água? A gente vai orientar a família do peixe a tirar o peixe daquela água durante X horas por dia? Não. Quem construiu aquele aquário, quem botou aquele peixe lá dentro e quem deixou aquela água ficar podre e tóxica é que tem a responsabilidade e a obrigação de estar limpando aquela água." Mas não é qualquer regulação que a gente precisa. Não adianta só enxugar gelo, a gente tem que ter uma regulação que de fato incida sobre a arquitetura algorítmica, sobre a estrutura do desenho dessa rede. Não é ficar tirando um usuário, um posto de um, um posto de outro ou verificar cada notícia falsa. Não.
Não. Não tem outro caminho. Tem que continuar pressionando em busca de uma soberania digital que não dependa de outros países, que não dependa do controle de grandes CEOs e que consiga ser controlado pelo povo, invertendo a lógica de hoje.
E em bom português, pra você cortar isso e botar num rios, o que está rolando agora é um roubo de dados e manipulação sistemática do seu comportamento através das redes sociais. As redes têm servido como mecanismos de poder disciplinar como as instituições e um grande shopping das suas emoções.
Quanto mais eu faço vídeos sobre esse assunto, e eu até fui olhar o primeiro vídeo do Normose e a de quase seis anos atrás falando sobre isso, mas eu percebo que economia de dados sem uma revisão muito clara e regras específicas é insano.
Nada na sociedade deixa de ter regulação. Carro tem regulação, arma tem regulação, comida tem regulação, tudo que chega de novo precisa ter um controle se não se perde ainda mais se ficar na mão de seis ou sete poderosos. Só a privacidade não basta.
É importante nivelar o nível do nosso jogo. A política deveria acontecer sem a mediação da plataforma, escolhendo o que ela vai entregar ou aumentar o alcance de acordo com os próprios interesses. Mas isso já foi.
Isso é um pedido clichê, velho passado. Eu tenho noção de que a era da razão acabou. Vivemos na pós-privacidade e precisamos tomar cuidado pra não cair num certo deus-algoritmo que a gente só fala amém e tudo se resolve.
Se antes olhávamos pro céu, pras estrelas, pra pedir assistência, agora delegamos tudo ao chat-gpt, transformando-o em Deus. Senão daqui a pouco a gente vai estar usando dados de inteligência artificial pra decidir se alguém cometeu um crime ou não e de acordo com a máquina a gente acredita e põe alguém na cadeia, ignorando que a máquina tem viés, que um algoritmo é basicamente uma opinião em forma de código, sem questioná-lo. E eu não tô dizendo aqui que a gente tem que cair em tecnofobia, fugir das máquinas, quebrá-las, negá-las.
Não. O futuro da inteligência artificial depende da resistência a essas grandes empresas de tecnologia. A IA precisa servir a ações solidárias e não ser um motor de privatização como tem sido.
É preciso, então, politizar a luta contra as big techs, pra garantir o máximo possível que a sociedade se beneficie como um todo e não apenas indivíduos isolados em consumo. Tem muita coisa boa acontecendo com o big data, rastreando doenças, ajudando em criação de vacinas, automatizando algumas coisas que o ser humano não consegue fazer, prevendo falhas em acidentes, conseguindo medir problemas de aquecimento global e assim por diante. As coisas vão ficar mais malucas do que já são.
É preciso, então, estimular cada vez mais pessoas pra olhar pro modelo de negócio por trás de como essas inteligências artificiais estão sendo usadas. Então o que podemos fazer? Vimos no vídeo que a privacidade é uma construção histórica, complexa, que depende de muitos fatores e tudo mais. Ela é um conceito móvel, em disputa, e por isso é tão importante ficar debatendo sobre ela, pra gente alcançar o melhor conceito possível, mais social possível, mais benéfico possível, definindo as práticas e os valores da nossa época.
Precisamos, então, adotar uma posição de pós-privacidade. Não é negar a tecnologia, é ser aberto pras tecnologias, mas de modo consciente, crítico e alfabetizado. Não precisa negar tudo que a gente tá vivendo e morar no meio do mato, mas se tornar consciente de quem é você dentro da rede e como você vai se posicionar a partir disso, como você vai escolher o que você vai ver a partir disso, sabendo que todos os seus passos estão sendo monitorados.
Quem é você na rede? Me diz aí nos comentários. Considerando, então, que não é que o debate científico, o campo progressista não sabe se comunicar. De fato não sabe, tem muitos erros, mas tem uma coisa que é maior.
Se os algoritmos são opiniões em formato de código, essa rede é desenhada por, para e pelo lucro, por valores morais à direita. Então tem uma barra limítida até onde a gente pode atuar aqui dentro. Isso não significa, porém, que é preciso abandonar esse lugar.
Regulação da Inteligência Artificial: A Urgência de Um Debate Crítico e Coletivo
Existem muitos projetos de lei acontecendo nesse momento no país, de todos os tipos. São pelo menos 46 projetos nesse momento discutindo inteligência artificial, redes sociais e suas regulações. Tem no Senado e tem também na Câmara, falando de deepfake, reprodução, manipulação de voz, direitos autorais e plágios de artistas para a criação de inteligência artificial.
Tem projetos perigosíssimos sobre reconhecimento facial e biometria, que podem aumentar muito a violência contra populações negras e pobres do nosso país. E tem projetos positivos também, querendo resolver a questão de automatização do sistema público para acelerar processos, ajudar a justiça, ou não. Talvez já tenha passado da hora da gente estudar, ler e se organizar e se engajar nesses projetos.
Aprender a usar isso aqui de modo crítico é urgente. Não fazer mais debates, por exemplo, de inteligência artificial só com medo e pânico moral. Ah, todo mundo vai perder o emprego, todo mundo vai morrer.
Vai, mas calma. O desespero e ficar muito emocionado nesse tema não nos ajuda em nada. Já falei isso aqui no canal, vou repetir.
É preciso então ser grosso e agressivo com as big techs e gentil com as pessoas que estão aqui dentro, para trazer mais gente para essa luta. E existe uma boa notícia no meio de todo esse mais chorume. As empresas não têm como coletar dados sem depender de nós.
Então de fato, como tem acontecido na Europa, se batermos o pé coletivamente, de maneira organizada, com uniões, com coletivos, com gente falando sério sobre esse assunto, a chave vira e a gente inverte a lógica. E é por isso que há tanto medo em torno de regulações. Precisamos pensar grande, porque a tecnologia por si só não vai criar um mundo melhor.
E citando Julian Assange mais uma vez, se as guerras podem ser iniciadas por mentiras, a paz pode ser iniciada pela verdade. Privacidade para os mais fracos, transparência para os poderosos. Se você gostou desse vídeo, nós temos várias, vamos abrir lista com muitos vídeos em torno desse assunto.
É um dos temas favoritos aqui do Normose. Continue maratonando e, se você puder, é o de sempre, ajuda nosso canal. Se você acompanha aqui todos os vídeos, você está vendo que a gente está numa correria insana para entregar conteúdo de qualidade para você.
Se inscreve, participa do grupo do Zap, pix em qualquer valor, nos ajuda muito. Nos vemos na semana que vem, fica suave por aí, é nóis e Faloncio. Este texto é uma transcrição automatizada do material original apresentado no vídeo abaixo. Pode conter erros de transcrição. Recomendamos assistir ao vídeo para uma compreensão mais precisa e completa.