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Qual plano infalível de dominação política? - Plano de Poder de Edir Macedo

  • Antologia Crítica
  • 29 de ago. de 2024
  • 9 min de leitura

E se eu te contasse que o que vivemos no Brasil de hoje faz parte de um projeto de Deus, continuação do que começou com Adão, Noé e Moisés no antigo Egito?


E se eu te contasse que o Brasil é uma terra prometida onde um mito salvador vai aparecer a qualquer momento, como foi para os antigos hebreus depois de 40 anos no deserto?


E se eu te contasse que existe um livro que mistura Aristóteles, Maquiavel e Bíblia num manual de tomada ao poder rumo ao estado do Deus evangélico universal e que a eleição de um presidente evangélico é só a parte de tudo isso?


Você me chamaria de louco ou de conspiracionista?


E se eu te contasse que esse livro existe, foi escrito em 2008 e tem um capítulo para tratar sobre a construção de um salvador na política que será chamado de Mito? É, Plano de Poder, de Edir Macedo, o patrono da Igreja Universal do Reino de Deus, que logo na introdução de seu livro, na página 8, já usa um slogan bíblico que você já deve ter ouvido por aí alguma vez. "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." O plano deu certo.



Nada suave, tranquilo, nem um pouco, não é? Vamos falar sério, esse é um vídeo espinhento, talvez o maior deles. Todo mundo fica falando de globo, de comunismo, de minion, de milícia e deixa pra lá o plano mais bem articulado de todos, o plano de Edir Macedo.


Ninguém tem franquia de TV própria, uma igreja com 6 mil templos, 12 mil pastores, uma fortuna de 2 bilhões de reais e poder político em suas mãos.


Tô pesquisando esse assunto já faz alguns anos e chegou a hora de fazer esse vídeo. Sim, eu cumpri os 3 livros de Edir lá em 2019 pra um roteiro e eu nunca consegui lançar esse vídeo. Hoje eu vou te contar.


Mas pra não ter confusão, fica o aviso. Isso aqui não é contra nenhuma fé específica. Eu tô propondo uma análise de um livro público escrito por um poderoso falando de política e que por isso interfere a todos nós. Não jogue o jogo do ódio. Evangélicos não são todos iguais. Há muitos tipos de vertente e posições, então não se esqueça disso.


Deixe o seu like, inscrição, assina o Catarse, se achar justo no final do vídeo e vamos aí. Boa exegese. Sabe aquela história de não misturar política com religião? Esquece.


Democracia é coisa do passado, agora a moda é montar um califado. A tese central do livro de Edir Macedo é de que Deus tem um plano narrado na Bíblia para uma nação estadista desde o Antigo Testamento e que o desejo divino de nação, sonhado outrora para os hebreus no Egito, chegou para uma nova terra prometida, os cristãos do Brasil. Edir defende que pra isso é claro, a nação deve ser comandada por esses cristãos.



Quais cristãos? Os evangélicos, preferencialmente da Universal. Católicos e outros evangélicos são criticados ao longo do livro. Enfim, vamos capítulo a capítulo.


A Visão Estadista de Deus


O primeiro é chamado de A Visão Estadista de Deus e utiliza distorções históricas vergonhosas. Macedo diz que Deus dá aula de planejamento e organização de um Estado, ensinando estratégias para lidar e garantir vitórias políticas dos seus. É Deus coach.


Tá achando estranho? Vai piorar. Segundo Edir, pra provar essa sandice, Edir começa a descrever várias ações de Deus que na verdade seriam projetos políticos de Estado pra nós. Pra ele, o primeiro projeto político de Deus foi Adão.



Pro livro, Adão foi o primeiro que recebeu direto de Deus o Estado. E esse plano não vingou porque o próprio Adão frustrou Deus politicamente. Sério. Esse é o argumento do livro.


Depois vem o segundo plano político de Deus, Noé, aquele que deveria repovoar a terra com a nação eleita. Mas falhou.



Segundo Edir, Noé atrapalhou os objetivos de Deus. Aí o livro diz que Deus tentou José, o governador do Egito, que foi enviado como empreendedor. Aquele que deveria crescer politicamente a partir dos seus méritos.



E por último veio Moisés. Mas por que os planos de Deus sempre falhavam na política? Segundo o Plano de Poder, é porque o crente não liga pra política. Segundo Edir, quando o crente se denomina apolítico, isso seria um grande erro porque atrapalharia os planos de Deus de vencer.


Assim, tá tudo muito errado. O bispo Macedo faz uma leitura fundamentalista, literal e seletiva da Bíblia, esquece a separação igreja e Estado e comete um erro crucial, a anacronismo, quando aplicamos conceitos, valores e sentimentos que são de uma época em outro tempo. Esse é um erro profundo pra qualquer análise histórica.


Não há ideia de Estado como nós conhecemos hoje na Bíblia. Nem de empreendedor, nem de gestão, nem de política moderna. É tudo uma projeção de Edir Macedo dentro do livro.


A questão é lógico-temporal. Como que no Antigo Testamento Deus tinha um plano pro povo cristão, se só existe cristão depois da vinda de Jesus Cristo? Não tem sustentação nem usando a própria lógica da teologia bíblica. Então surge a pergunta, o que Edir entende e chama por povo cristão? O povo da Igreja Universal, é claro.


Mas vamos ignorar isso por hora e continuar, já que o próprio livro admite que, entre aspas, não pretende ser científico, mas um trabalho de divulgação de um manual de tomada e estabelecimento de poder político e de governo através da Bíblia. Ou seja, panfleto propaganda pra buscar poder e conversão é a única coisa que realmente importa. É o fator Melquisedeque, uma estratégia de evangelização que missionários cristãos usam a partir de uma ideia de consciência universal que só permite um Deus único.


E que Deus preparou todos os povos do mundo pra receberem o Evangelho. Há uma visão de que apenas esse Deus é correto, e todas as outras culturas seguiriam esse mesmo Deus. Só não sabiam disso ainda, interpretaram errado o segundo livro.


É o que a Igreja Universal vem fazendo nos últimos 45 anos de história, sempre na corda bamba da moralidade e da legalidade. Pra quem não sabe, a Iurde, Igreja Universal do Reino de Deus, é uma igreja empresa fundada em 1977. Se hoje a Iurde é uma gigante com 10 mil templos, 14 mil pastores, 320 bispos e milhões de fiéis espalhados em mais de 100 países, não foi sempre assim.



Tudo começou no salão de uma antiga funerária no subúrbio do Rio de Janeiro por um ex-funcionário público carioca que passou a criar programas de TV e rádio evangélicos. O plano de marketing era certeiro, montar um culto num clube ou num salão, arrecadar dinheiro dos fiéis e com isso comprar mais meios de comunicação pra difundir a mensagem religiosa e assim abrir novos templos. A coisa ficou gigantesca.


Edir comprou a TV Record em 89. Mais um estágio do poder foi alcançado. Em seu livro, Macedo afirma que dinheiro e comunicação possibilitam atingir um determinado ponto na escala de poder e que só pode ser superado por meio da política.



Quando dinheiro e política se juntam, um novo patamar de poder é atingido. Então só faltava o próximo passo pra vida de Edir, a política. A ideia de Estado, Nação e Deus é um plano antigo de Macedo.


Bíblia como manual de plano de poder político


Você sabia que em 1995, Edir Macedo criou um partido político em Portugal pra tentar cargo. Sim, o PG, Partido da Gente, foi um partido português extinto e que pertencia à Igreja Universal do Reino de Deus. O PG pegou muito mal por lá e não decolou, mas já mostrava a verdadeira ambição de Macedo.



No capítulo 3 de seu livro, Edir crava, a Bíblia não deve ser apenas orientação da fé religiosa. É um manual de tomada e estabelecimento de poder político e de governo. Bastante laico, não? Não.


Então, em 2005, a Universal monta o seu próprio partido, o PRB, o Partido Republicano Brasileiro. A igreja nega de ser dona do PRB, mas a cada eleição que o partido cresce, mais e mais bispos da IUD se filiam ao partido. Por que será? O PRB tinha 54 prefeitos em 2008 e passou a ter 106 em 2016.



Na Câmara, o número de vereadores, senadores e deputados triplicou. Foram criadas as chamadas e famosas bancadas da Bíblia. E assim como já acontecia nos templos, as igrejas rivais começam a disputar internamente a hegemonia pelo poder político dos evangélicos.


Então, o que faltava para o plano se concretizar? Em 2008, o livro aponta que faltavam ações coordenadas, uma união de interesses em partidos diversos que coloquem os líderes à frente do rebanho, tomar cargos de poder. Em 2014, o pastor Everaldo sai candidato a presidente pelo PSC. Em 2015, o pastor Marco Feliciano, também do PSC e rival do Universal, assume a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara de Deputados.


E Eduardo Cunha, no PMDB, assume a Câmara de Deputados. Todos eles são da Assembleia de Deus. Neste 2015, o PRB muda o seu nome para Republicanos em busca de aumentar o seu poder político.


O que segue exatamente as instruções de Edir nos capítulos 4 e 5, como libertar o rebanho agindo politicamente. Edir afirma que o projeto de nação depende do engajamento total do cristão para a realização do sonho de Deus. Por isso, como não é uma vontade natural das pessoas, como eu e você, devemos seguir mesmo sem vontade.


Argumento malicioso, não é? Apesar de proibido, existe campanha política dentro da igreja e um imenso exército de cabos eleitorais que são os jovens e obreiros. Eles fazem campanha de graça para todos os políticos em todas as cidades. Por isso que os evangélicos são tão fortes politicamente.


Porque mistura a fé das pessoas em Deus com o projeto de poder político dos seus líderes. Edir diz que é necessário avançar lentamente em diversas esferas de poder para encontrar um nome que não esteja diretamente ligado à igreja, mas que transforme a cultura de um país. No capítulo 7, O Encontro de Deus e a Missão, Edir Macedo diz que o projeto de nação de Deus lá no Egito demorou 40 anos.


A igreja universal tem 40 anos. E com pouco tempo de leitura, vamos percebendo a tese principal do livro. O bispo se põe como representante direto de Deus.


Ele é o líder máximo e vitalício. Quando fala de Deus, Edir está falando de si próprio e das suas vontades. O plano de poder de Deus para os evangélicos não é dos evangélicos e nem de Deus.


É de Edir Macedo, o ser humano. E agora vem o capítulo 6, o mais assustador, chamado "O Agente Apropriado", onde Edir dá a guia de como escolher o mais capacitado candidato para a URD. Para isso, ele diz que será necessário transformar o político num mito.


Sim, mito. Essa expressão, num livro de 2008. Abre aspas:


"O mito é uma chancela. No caso da política, sua potência deve ser bem explorada para que a pessoa seja o ator principal de um partido, porém com uma imagem resguardada, evitando assim o seu desgaste de desconstrução." Edir continua.


"Dependendo de sua grandeza, o mito se torna uma marca, um produto à parte, independente da sigla partidária." Fecha aspas.



Deus não escolheu Moisés e José porque eles eram mais preparados, mas sim porque ele era estrategicamente o que mais convinha para o momento.


Será que os líderes poderosos evangélicos que antes brigavam encontraram o seu Messias? Em 2018, até os pastores mais brigados com Edir Macedo voltaram a fazer as pazes numa visão bem pragmática. Se há poder, é lá que eles estão. O dom dessas pessoas é farejar muito bem para onde aponta a bússola do poder entre os seus seguidores.


Foi parceira dos governos PT desde 2002. Fez o vice-presidente de Lula, José de Alencar. Tinha membros de trânsito livre no governo.



Depois mudou de lado e apoiou o golpe contra Dilma Rousseff. E aí a legenda assumiu o ministério no governo Temer. E agora integra o governo Bolsonaro.


Ser oposição não é uma possibilidade para Edir Macedo. O lado de Edir Macedo é o dele. Brasil acima de tudo, Deus acima de todos, tem tudo a ver com o plano de poder.


O mito construído entre José e Messias uniu diversos interesses por poder. E nos capítulos finais, Macedo deixa claro que fala diretamente as 40 milhões de evangelho, mas que quer a supremacia dos seus. Não é uma visão de integração.


É uma lógica de separação. Ou você está comigo, ou é um demônio. Não há um capítulo ou página que ele não estimule e exige o totalitarismo teocrático de seu partido.


Não tem conteúdo evangélico. É conteúdo político de um autoritário e sua igreja querendo dominar tudo. Talvez não seja à toa que a primeira página do livro diz que a obra não quer ser um regime teocrático e pede bom senso aos leitores.


Mas alguém perguntou isso? Quem está pensando isso? Você não acha estranho que uma obra logo na introdução precise esclarecer que ela não é uma incitação ao regime teocrático? Quem clama por bom senso sou eu. Edir é dono de um império, uma igreja, uma TV e agora um partido. Qual o próximo passo? Um exército?



Existem experiências evangélicas diversas. O campo evangélico é um local de disputa. Tem muitos símbolos, significados, afetos. E a minha questão aqui é algo bem mais material e terreno.


O plano de poder. Eu peço para que esse vídeo seja compartilhado por evangélicos. Essa não é nem a ponta do iceberg.


Tudo o que falei aqui não tem a ver com fé. Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Nunca se esqueça do título da autobiografia de Edir, que mais parece um escárnio com a nossa cara. Edir não tem nada a perder.



Se você gostou desse vídeo, dê o seu like, inscrição e sininho. Aqui não tem dízimo obrigatório e nem 10% por dias melhores. Que os deuses abençoem o Brasil. Todos eles. Os deuses e a não existência de Deus também.


E que de alguma maneira a gente seja feliz. Fica suave. É nóis. Amém. Falows.


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Este texto é uma transcrição automatizada do material original apresentado no vídeo abaixo. Pode conter erros de transcrição. Recomendamos assistir ao vídeo para uma compreensão mais precisa e completa.


Normose - Qual plano infalível de dominação política? -PLANO DE PODER-



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