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Por que o Rock virou coisa de reaça?

  • Antologia Crítica
  • 8 de ago. de 2024
  • 14 min de leitura

Atualizado: 10 de ago. de 2024


Brasil, 1967. As ruas de São Paulo são tomadas por uma grande manifestação contra a guitarra elétrica. Os nacionalistas repudiam os cabeludos rebeldes que tocavam rock.


Brasil, século XXI. Radicais de extrema direita ultranacionalistas cantam rock, rumo aos quartéis onde vão acampar para pedir golpe militar.


Estados Unidos, 1969. O festival de Woodstock, um dos maiores ícones do rock, é iniciado e finalizado por artistas negros, Ritchie Havens e Jimi Hendrix.


Brasil, século XXI. Fãs de rock destilam comentários racistas em grupos de internet e são conhecidos por terem virado reacionários.


Brasil, 1978. Renato Russo compõe a música Que País é Esse, uma crítica ácida aos governantes da ditadura e às elites.


Brasil, século XXI. Militantes de extrema direita usam a música Que País é Esse como uma forma de defender o governo de um homem que apoia a ditadura em eventos bancados pelas elites.


Estados Unidos, 1992. O Rage Against the Machine lança Killing in the Name, uma crítica pesada ao racismo e à brutalidade policial.


Estados Unidos, século XXI. Supremacistas brancos e defensores da polícia americana aplaudem emocionados Donald Trump ao som de Killing in the Name.


O que diabos aconteceu? O rock virou real, se envelheceu e ora ou outra a gente escuta que o rock virou chato porque se politizou demais.


Que porra foi que aconteceu com o rock and roll?


Pra mim, que cresceu na adolescência ouvindo rock e vê o que aconteceu nos dias de hoje, é bastante vergonhoso. É difícil compreender que um gênero que começou nas minorias, abraçando todos os grupos, virou o que virou. Mas esse episódio é muito mais do que isso.


É pra pensar sobre produtos culturais, indústria cultural, uma viagem sobre gerações, como funciona a indústria do entretenimento, sequestro de pautas e como no realismo capitalista, qualquer coisa pode ser apropriada e virar reacionária.


Como esse vídeo está na pauta de cultura, arte e música, mais uma vez a gente tem o Antídoto convidado no canal, não só pra editar os vídeos como normalmente, mas também pra participar do roteiro e falar aqui comigo. Certo antídoto? Certíssimo.


Então se você já viu os outros vídeos e gosta das nossas parcerias, já comenta aqui embaixo, deixa o engajamento pra nós que é pro vídeo rodar um montão, compartilha com seu tio Reaça no grupo do Zap da Família e bom episódio.


As mães do rock


Década de 1940. No Mississippi, no Alabama, Nova York, o mesmo fenômeno começa a acontecer.


A música gospel dos subúrbios americanos queria sair da mesmice religiosa. A guitarra do blues e do R&B adentrava os cultos protestantes e formava um novo ritmo, mais dançante, mais contagiante e majoritariamente feminino.


Big Mama Thornton e Sister Rosetta Tarp foram duas mulheres negras que pariram isso que hoje a gente chama de rock and roll.



Essa música no começo era assim, mulheres negras expressando as suas vozes. Big Mama, conhecida por ter 1,90m de altura, foi vista cantando por dois jovens produtores chamados Jerry Lieber e Mike Stoller. Eles se inspiraram a compor uma música pra ela chamada Hound Dog em 1952.


Mas elas duas estavam longe de ser as únicas. Também tinha muitos homens, negros, pobres, e alguns deles até com masculinidades divergentes do padrão, que faziam músicas que arrepiavam os jovens que ouviam, cantavam e dançavam quando os mais velhos não estavam olhando.


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O Roubo de Elvis


O problema que os produtores percebiam era que o rock, nessa América tão segregada, era negro demais pra fazer sucesso com um público mais amplo e mais cheio da grana. É bom lembrar que os negros eram só 12% da população dos Estados Unidos e que os jovens não tinham muito poder aquisitivo.


Eles sabiam que a hora que eles achassem um branco, principalmente se fosse bonitão, que conseguisse cantar igual esses negros, eles iam ganhar muita grana. Aí adivinha só.



Então a música Hound Dog, que tinha feito sucesso com a Big Mama, é entregue pra um garoto jovem, bonitão e branco.


Até hoje, Sister Rosetta, nem Big Mama, tem seu nome gravado no hall da fama do rock e muita gente nem ouviu falar delas. Responde aí pra mim nos comentários, você conhece o nome dessas duas? Bom, além disso, nomes que hoje são consagrados como Little Richard e Chuck Berry, tiveram por muito tempo a paternidade do rock'n'roll renegrada pra eles. Eram taxado de mulherengos, de loucões, de porra loucas e não podiam ter a paternidade do rock por isso.


Eram tratados como agressivos pelo jeito que se portavam. Estereótipo negro que se perpetua até hoje, não é mesmo? Já o Elvis, que fazia todas essas mesmas coisas, mas era branco, sofria muito menos preconceito e era o rei do rock. Mas é ainda mais complexo que isso.


Nem só de racismo vivia o Rock


Nessa primeira geração do rock, mesmo quem como Elvis era branco, geralmente era pobre, criminoso, usuário de drogas. Com pouquíssimas exceções, essa primeira geração do rock consistia de pessoas que de algumas formas eram marginalizadas. E vale notar aqui que a história da música popular tá repleta de exemplos de homens e mulheres negros empurradas pras margens do gênero que eles mesmo criaram.


Pra você ter noção do peso do que eu tô falando, Little Richard declarou a Rolling Stones lá em 1990, muitas décadas depois: "Se eu fosse branco. Você sabe quão grande eu seria?"



Isso porque a cada ano que passava, o rock foi sendo embranquecido e embranquecido. É assim que conforme vão acabando os anos 50 e começando os anos 60, o rock, além de ser uma forma de arte, uma expressão de cultura, se torna também um produto da indústria cultural.


E esse produto vai crescer mais ainda no mercado e se embranquecer mais ainda quando na primeira metade dos anos 60 acontece uma invasão.


Os Beatles e a juventude


Em algum momento, os Beatles foram o que houve de mais famoso no mundo. Mas não famoso como hoje é algum influencer do TikTok.


A gente normalizou a coisa de ser famoso, mas é muito doido parar pra pensar que os Beatles, sobretudo, foram os primeiros a serem conhecidos por todo mundo através da televisão e que isso nunca tinha acontecido na humanidade. Tipo assim, nenhum faraó, nenhum imperador, nenhum Gengis Khan da vida tinha passado sua imagem tantas vezes dentro daquele tubinho de televisão colorido. Aquilo era a novidade do momento.


E não à toa moldou o comportamento de toda uma geração no mundo. Se a primeira geração veio principalmente dos Estados Unidos, a segunda geração veio principalmente da Inglaterra. Se desse lado do oceano teve Jimi Hendrix, Doors, Janis Joplin, Grateful Dead, Santana, do outro lado do oceano tinha Beatles, Rolling Stones, The Who, The Kinks, Pink Floyd, Led Zeppelin, The Purple Black Sabbath.


Mas repara que esse pessoal brilhante que conseguia sair da Inglaterra e ganhar o mundo já era muito mais composto por homens brancos, héteros, ainda que a maioria de origem pobre.


Além de ser apaixonados pela música dos negros americanos, eles também traziam, pelo menos na época, uma vontade grande de romper com as estruturas, com o conservadorismo, com o moralismo. E quando a guerra do Vietnã começa a ter visibilidade na TV, praticamente todos eles vão se manifestar fortemente contra a guerra, contra o imperialismo e vão ser, em sua maioria, bastante ligados nos ativismos que lutavam por igualdades, lutavam por direitos das minorias.


Por exemplo, quando os Beatles foram tocar nos Estados Unidos, o Paul McCartney fez uma coisa que nenhum artista internacional fazia. Ele criticou a segregação dos Estados Unidos numa entrevista. E a partir disso, os Beatles, homens brancos europeus, passaram a ser perseguidos pela Ku Klux Klan. Sim, aquela Ku Klux Klan, em todos os seus shows nos Estados Unidos.


Quando os Beatles foram condecorados com o Member of British Empire, MBE, o John Lennon o mandou devolver o MBE dele porque não queria ser membro do império. Mas veja, não podemos aqui cometer anacronismos.


Ainda com esses problemas que estamos apontando, o rock quebrou paradigmas históricos pro período. A criação da contacultura do rock avançou, ousou e provocou dentro do que dava no período. Cada sujeito tá preso dentro do seu tempo histórico.


Então não podemos perder esse horizonte de análise, claro. Tipo, literalmente, não fazia 30 anos que o termo juventude tinha sido inventado como conceito. 30 anos, tipo, como se fosse hoje pros anos 90.


E isso virou o mundo de ponta cabeça. Os valores de independência mexeram tudo que havia nos anos 60 e 70. O rock era música proibida pelas autoridades.


Era o que o adulto proibia e o jovem conseguia ouvir. O espaço onde ele era acolhido nessa época. Era o início de uma ruptura entre o mundo infantil e o mundo adulto.


E o palco onde essa ruptura acontecia, às vezes era no rádio, às vezes na TV, às vezes nos discos e às vezes, literalmente, nos palcos. Sobretudo de uma coisa que ficou muito marcada nessa época. Os festivais.


Woodstock



Os festivais de música aqui do Brasil são uma conversa à parte e dariam um episódio inteiro só pra eles. Mas o rock não era protagonista aqui. Ao contrário do Woodstock, que ficou marcado como o grande símbolo dessa geração.


O Woodstock foi mesmo um marco incrível, assim como o festival da ilha de Wyatt, o Monterrey. Festivais lendários, gigantes, feitos sobretudo no amor à camisa e não por grandes corporações. E que são lembrados até hoje.


Mas tem um porém aí. Uma coisa que também é bom lembrar. Quando a gente está estudando história, o que a gente lembra pode ser muito revelador.


Mas o que a gente não lembra, o fato de a gente não lembrar de algumas coisas, também pode ser muito revelador de outras formas. Festivais levavam multidões pra falar de revolução. É lógico que o Woodstock tem uma importância gigantesca pra cultura mundial e pra ideia de contracultura que foi formada dali em diante, claro.



De como se davam a sexualidade das mulheres, o nascimento dos feminismos, como se empregava a lógica de lucro capitalista até ali, os primeiros papos sobre a exploração do meio ambiente. Tudo isso aconteceu, verdade. Mas alguns dias antes, um outro festival gigantesco e muito importante estava rolando e pouca gente parece lembrar dele.


Harlem Cultural Festival - O festival esquecido

Era o Harlem Cultural Festival. Uma série de eventos e festivais libertador que celebrava a cultura negra americana numa época marcada pelos assassinatos de seus líderes Martin Luther King, Malcolm X e um acirramento muito grande da luta pelos direitos civis dos negros dos Estados Unidos. E esse festival tinha nomes gigantescos.


Stevie Wonder, Nina Simone, Sly and the Family Stone. Ele foi inteiro filmado, mais de 40 horas de shows, um público de mais de 300 mil pessoas. Falando em revolução, falando em poder negro, falando de violência, mas celebrando o amor.


E aí, adivinha só? Eles não conseguiram o interesse de nenhuma emissora pra trabalhar o evento. Assim como a lembrança do Woodstock nos diz muito, o esquecimento do Harlem Cultural Festival, de outra forma, também nos diz muito. Tipo, sério, foi só agora, há poucos anos, que essas fitas foram redescobertas.


Com esse tanto de artista, com esse tanto de poder. Quem conta história são sempre os vencedores. Mais do que nunca, a indústria cultural precisava tomar rédeas da contracultura pra colocar limites no movimento.


Nem tudo podia ser visto, nem tudo era tão livre, nem tudo era escolhido pra fazer sucesso. Não é só talento, era indústria e dinheiro. Com a morte devastadora e prematura de Jimi Hendrix, logo aos 27 anos.



O rock mainstream permaneceu como um gênero majoritariamente branco e com pouquíssimos negros ao longo das décadas. A indústria cultural, os meios de comunicação e os próprios imaginários de sociedade demandaram que o rock representasse um apelo somente à juventude branca. A contestação, no entanto, ia se esvaziando a cada ano que passava.


E quanto mais a indústria da cultura se apropriava dos movimentos musicais pra domesticá-los e gerar lucro, mais os grupos de periferia iam sendo afastados. Quando esse rock virou realmente um enorme mercado, o que era orgânico até então, passou a virar fórmulas e fórmulas de composição de músicas curtas e cada vez mais despolitizadas.


Punk Rock e Disco Music


Nos anos 70, quando punk rock e disco music estouram, fazem muito sucesso, mais ou menos na mesma época.


Apesar de serem dois tipos de música radicalmente diferentes, eles são quase que dois lados da mesma moeda. Porque os dois são tipos de música que vieram de populações marginalizadas e que, de repente, foram abraçados pela indústria, fizeram muito sucesso, se tornaram impossíveis de evitar para as outras pessoas e que causaram reações extremas. O punk que veio das periferias, veio das populações marginalizadas pelo crime, pelas drogas e, sobretudo, pela pobreza e desigualdade social, ele junta a simplicidade do rock'n'roll lá do começo com uma vontade de incomodar, de emportonar, de encher o saco, de confrontar o sistema e, portanto, de causar uma reação.



E antes do movimento punk estourar, já tinha gente fazendo isso. Mas a partir daí, ele tem um nome, ele tem uma fatia de mercado e ele começa a ser explorado pelas gravadoras como mais um produto de consumo e não é à toa que o Sex Pistols, uma das bandas punks mais icônicas e influentes, tem como elemento vital da sua fundação e de toda a sua curta carreira o Malcolm McLaren, que era um dono de grife. Já a Disco Music tinha uma abordagem completamente diferente.


Ela era uma celebração da cultura negra, da cultura latina, da cultura gay, tomando o mainstream, ficando pop. Da mesma forma, ela foi rapidamente cooptada pelas gravadoras, pela indústria musical. Foi embranquecida muito rápido, pasteurizada muito rápido, tocava o tempo todo, em todo lugar, até todo mundo estar enjoado e teve uma relação muito ambígua com o rock.


Por um lado, quase todos os grandes nomes do rock da época mergulharam na Disco Music e fizeram músicas influenciadas pela disco, como os Rolling Stones, Paul McCartney, Kiss, Pink Floyd, Queen, Elton John, quase todo mundo. Mas por outro lado, a gente teve uma reação gigantesca e despropositada de gente que odiava a disco de uma maneira muito mais vocal, intensa e agressiva do que odiava todos os outros movimentos e modas da cultura pop que tinham vindo até então. Por um lado, estavam de saco cheio da gravadora ficar impondo essa música e tocando essa música em todo lugar.



Mas por outro lado, tem também aí uma questão racial, uma questão de gênero, uma questão de preconceito, uma questão de gente branca não querendo ter o seu privilégio tomado e invadido por essas gentes que, enfim, né? O ápice disso tudo foi a Disco Demolition Night, quando num estádio, num jogo de beisebol, as pessoas que levassem discos de Disco Music pra queimar tinham um ingresso gratuito. Aí eles fizeram uma grande fogueira pra queimar esses discos em um estádio cheio aos gritos de coisas que, vamos dizer assim, deixariam o Vini Jr. bem irritado. Muito parecido com as fogueiras que fizeram 15 anos antes pra botar fogo em disco dos Beatles, porque eles eram do demônio, mas um pouco parecido também com outras fogueiras que a gente já viu ao longo da história.



Rock, os posers e a despolitização


E quando o rock virou comercial aqui no Brasil, a fórmula se repetiu. Rock foi virando uma ideia de branquitude intelectualizada, com alto poder aquisitivo, que tinha contato com o que vinha de fora no exterior, que exigia anos e anos de estudo, porque senão você era um poser de rock. Uma bosta, né? Até porque o rock nesse período não tava muito bem.


Por exemplo, quando o Eric Clapton disse ao seu público, lá no Reino Unido, que o país estava super povoado e que se transformaria numa colônia negra por causa da imigração, ele foi apoiado pela frente nacional Keep Britain White. Sim, mantém aquela bosta branca. Desculpa.



Essa guinada pra direita não aconteceu só por lá. Se na Inglaterra da Margaret Thatcher o conservadorismo ganhou força de novo, nos Estados Unidos do Ronald Reagan, nos anos 80, a onda conservadora também foi muito forte. Uma grande parte do rock vai ficar mais careta, vai ficar mais despolitizado.


As novas vertentes que ganham popularidade dentro do metal, dentro do hardcore, vão, em alguns casos, se alienando cada vez mais pros seus próprios mundinhos de fantasia, e, em alguns casos, se radicalizando cada vez mais na política, fazendo um contraponto a essa onda conservadora. É aí que, com o apoio do governo, os políticos mais neoliberais são justamente aqueles que vão criar iniciativas que são ancestrais do que hoje é, por exemplo, o banimento de livros nas escolas. Uma das maiores brigas que o rock encampou nesse período foi justamente contra a censura.


Grupos de paz apoiados por políticos pediam à censura a proibição da venda de discos, porque teriam letras explícitas ou satanistas. Aliás, essa também foi a época do pânico satânico, em que a mídia sensacionalista, aliada com a religião, que também se exacerbava, começou a ver satanismo em tudo quanto era coisa. Música, série, filme, livro, jogo de RPG, tudo era do demônio.


Só tirar dinheiro do fiel e abusar da boa vontade deles, isso tudo bem, isso pode, isso é de Deus. Aleluia. No fim das contas, isso vai dar origem a esse selinho de avisa aos pais letras explícitas, que era colocado na capa dos discos e é em muitos casos até hoje.



Isso foi feito para coibir a venda de alguns discos, mas em alguns casos até ajudou, porque a molecada via esse selinho e já queria saber o que esse disco estava dizendo.


No Brasil, o rock mais popular alternava entre a crítica política, a resistência à ditadura, o combate à censura, um hedonismo completamente despolitizado, que lembra muitas das coisas do sertanejo de hoje em dia, e na cena underground, sobretudo no punk e no hardcore, um crescimento cada vez maior da politização, que vai prosperar ainda mais depois do final da ditadura. Se por um lado o rock não era mais a grande novidade das quebradas, tendo perdido esse espaço para o rap, um movimento que demorou um pouco para chegar aqui, mas foi muito rápido nos Estados Unidos.


Viralatismo Brasileiro


Por outro lado, parecia que as bandas de rock daqui tinham vergonha de ser brasileiras. Todo o desastre que foi a ditadura fez com que a ideia de o que é daqui fosse uma ideia meio desprezada, sobretudo pelas pessoas mais jovens, e tudo que era importado era muito bom. Então, musicalmente falando, bandas como Legião Urbana vão ser irmãs das bandas inglesas, enquanto bandas como Ultrá de Rigor vão ser irmãs das bandas californianas.


Quando cai o muro de Berlim e acaba a Guerra Fria, aqui no Brasil a ditadura já tinha acabado, essa onda de conservadorismo, guiada pelo medo, começa a dar lugar a um mundo em que já não se tem mais tanto do que ter medo. Então, o que acontece aqui e o que acontece nos Estados Unidos e na Inglaterra são coisas completamente diferentes. No Brasil explode uma diversidade de bandas que não tinham mais essa vergonha de ser brasileiras.


Nos anos 90, sobretudo depois de 94, com o Plano Real, o tetracampeonato do Brasil, parece que volta a ser legal para as bandas daqui misturar um monte de elementos da nossa rica tradição musical e fazer coisas novas com isso. Chico Science, Nação Zumbi, Raimundo, Pato Fu, Skank, Mamonas Assassinas, todas as bandas que mais faziam sucesso eram bandas que davam uma cara de brasilidade para o seu som.


Nos Estados Unidos e na Inglaterra, com o hip hop, a house music e n outros gêneros de origem negra bombando e fazendo muito sucesso, o rock vai continuar nesse movimento de se embranquecer, de ser majoritariamente branco, mas ainda, em muitos casos, muito politizado.



De bandas como Rage Against the Machine até os principais nomes do Grunge, Nirvana, Pearl Jam, todos tratavam de temas políticos nas suas letras. E assim também com esse pessoal como os Beastie Boys, que transitava mais nessa intersecção com o rap.


Na Inglaterra, com o Britsh Pop, bandas como o Oasis e o Blur não tinham tanto espaço assim para política nas suas letras, mas elas apareciam e geralmente relacionadas com o orgulho de ser classe trabalhadora que o Oasis tinha ou com a crítica à mediocridade da vida moderna que o Blur tinha.


Aliás, essa crítica à mediocridade dava muito tom da época, porque tinha uma coisa na cultura dos ingleses, dos estadunidenses, de que parecia que a história tinha acabado. Era como se eles pensassem a Guerra Fria acabou, a gente venceu, o nosso modelo deu certo, mas tá, e agora? A vida é só isso? Não tem algo mais além disso pra gente viver? Tô de saco cheio.


Vai ter até gente como o Francis Fukuyama que vai dizer que a história tinha acabado, que os grandes movimentos da história tinham chegado ao fim, e que a social-democracia liberal era um modelo histórico vencedor e definitivo.


E daí veio uma coisa que mudou tudo. E é por isso que esse episódio vai ficar por aqui. Porque o que acontece depois é outra coisa, completamente diferente, e que merece um episódio só pra gente entender ela.


Porque é ela que vai dar o palco do mundo em que a gente tá vivendo agora.


Continua...


Este texto é uma transcrição automatizada do material original apresentado no vídeo abaixo. Pode conter erros de transcrição. Recomendamos assistir ao vídeo para uma compreensão mais precisa e completa.



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